24 dezembro 2003

FELIZ NATAL

...E um óptimo Ano de 2004!

Deixo-vos com o "Livro de Notas" de Leonardo da Vinci...

BEETHOVEN - AS SINFONIAS (II)

A Quinta (“Do Destino”), iniciada em 1807, é a mais trágica das nove, fazendo um percurso desde as trevas (os dois primeiros movimentos) até à luz (os dois últimos), abrindo precedentes na história da música. Dotada de extraordinária energia, é rica em desfasamentos rítmicos e repentinas trocas de tonalidade.

A Sexta Sinfonia, Pastoral, também de 1807, é outra ousadia; organizada em cinco movimentos, cada um retratando um aspecto da vida no campo, abriu espaço para as experiências de Liszt e Berlioz no género da música programática. Contrariamente à anterior, caracteriza-se por um clima de repouso idílico.

A Sétima (1811) ficou famosa pelo seu movimento lento, um Allegretto pouco definido, que encantou compositores como Schumann e Wagner. Foi composta num complexo período sentimental. O seu carácter rítmico é o sinal mais distintivo desta sinfonia, definida como a apoteose da dança.

9Sinfonia A Oitava (1812) tem no terceiro movimento uma novidade, o minueto. Foi apresentada como “a pequena”.

Finalmente, a Nona (1822, embora a ideia e alguns esboços remontem a 8 anos antes), talvez a obra mais popular de Beethoven, marcando uma época, com a sua grande atracção, o coral final, a Ode à Alegria.

Pode ouvir "toda" a música de Beethoven aqui.

E, por aqui, se encerra esta "digressão". A descobrir, a seguir, uma grande viagem...

23 dezembro 2003

BEETHOVEN - AS SINFONIAS (I)

As 9 Sinfonias de Beethoven constituem a parte mais conhecida da sua obra. A maior parte foi composta na fase intermédia da sua criação, à excepção da primeira e da última sinfonia.

A Primeira Sinfonia, composta nos primeiros anos vienenses (cerca de 1799), está fortemente ligada ao classicismo vienense e à tradição de Haydn e Mozart.

A segunda (1800-1802) é uma obra de transição e apresenta já algumas das suas características pessoais, com um tratamento inédito dos instrumentos de sopro.

Beethoven apenas encontraria a sua linguagem sinfónica definitiva na terceira, "Heróica", uma sinfonia “revolucionária”, que se afasta definitivamente das formas tradicionais da sinfonia clássica vienense. Planeada para ser uma grande homenagem a Napoleão Bonaparte, que admirava, é uma obra grandiosa, de concepção monumental e temática épica, notavelmente longa. Porém a dedicatória napoleónica acabaria por ser retirada na sequência da coroação de Napoleão como imperador da França - Beethoven, decepcionado, alterou o programa da obra, incluindo uma marcha fúnebre "à morte de um herói".

A Quarta (1806) é uma sinfonia mais relaxada, conhecida pela sua longa introdução, quase independente do restante da obra, traduzindo no seu conjunto, de alguma forma, um retorno a formas mais tradicionais.

22 dezembro 2003

BEETHOVEN - OS QUARTETOS

Beethoven compôs música de câmara durante toda sua vida, mas a parte fundamental da sua obra neste género seria o conjunto dos seis últimos Quartetos de cordas, escritos nos últimos anos de vida do compositor.

O Opus 131 é o mais ambicioso deles, com sete movimentos, todos encadeados entre si; o primeiro é uma fuga muito lenta e expressiva, o quarto é uma sucessão de sete variações, e o último é um enérgico Allegro, que retoma o tema principal do primeiro.

Além deste, os mais importantes foram os quartetos Opus 133, Grande Fuga, e Opus 135.

21 dezembro 2003

BEETHOVEN - OS CONCERTOS

Beethoven compôs cinco concertos para piano, um para violino e um tríplice, para violino, violoncelo e piano.

Os dois primeiros concertos para piano são bastante característicos da sua juventude, devendo grande parte da sua linguagem musical a Mozart.

O terceiro, composto em 1800, é uma obra de transição, com carácter mais sinfónico, sendo sério e pesado.

O Concerto no. 4, composto em 1806, daria um salto ainda maior; o seu movimento central, Andante con moto, alterna o lirismo romântico do piano com intervenções vigorosas da orquestra.

O último concerto para piano, conhecido como Imperador, viria a tornar-se o mais célebre; é uma obra majestosa, de carácter tão sinfónico como o terceiro concerto, mas menos trágico.

O concerto mais popular que escreveu foi o de Violino, uma das obras mais perfeitas escritas para esse instrumento.

Já antes o havia incluído no Concerto Tríplice, para piano, violino e violoncelo, herdeiro da sinfonia de concerto de Haydn e Mozart e percursor do Concerto Duplo de Brahms.

20 dezembro 2003

BEETHOVEN - AS SONATAS

As sonatas para piano – no total de 32 - constituíram uma espécie de “laboratório”, que lhe permitia fazia experiências, aproveitadas noutras formas.

Beethoven introduziu grandes inovações na estrutura da Sonata; incorporou novas formas (fuga e variação), mudou o número de movimentos e a sua ordem (colocando muitas vezes o movimento lento em primeiro lugar), aumentando a sua vertente emocional.

Entre as onze sonatas do primeiro período, a mais conhecida é a Opus 13, Patética, com a sua introdução dramática e o seu clima sombrio (com a maior parte dos seus temas em tom menor), culminando no seu emocionante e romântico adágio.

As sonatas mais conhecidas encontram-se no seu “segundo período”: a Opus 27, Ao Luar (famosa pelo adágio introdutivo), a Opus 53, Waldstein e a Opus 57, Appassionata.

Embora mais originais, as sonatas do último período são as menos populares. A Opus 106, Hammerklavier, de carácter monumental, é quase uma sinfonia para piano solo – imponente pela sua duração, plena de dificuldade técnica. Outras grandes obras-primas são as duas últimas, Opus 110 e 111, de carácter quase romântico.

19 dezembro 2003

BEETHOVEN - OBRA (II)

A primeira fase corresponderia às obras escritas entre 1792 e 1800, ou seja, as primeiras peças publicadas, já em Viena, incluindo, por exemplo, os trios do Opus 1, a Sonata Patética, os dois primeiros Concertos para piano e a Primeira Sinfonia, obras ainda tradicionais, embora já com algum cunho pessoal.

A segunda, correspondente ao período de 1800 a 1814, de plena maturidade, marcado pela surdez e pelas decepções amorosas, é caracterizada por obras como a Sinfonia Heróica, a Sonata ao Luar e os dois últimos Concertos para piano.

A última fase, de 1814 a 1827, já completamente surdo, seria o período das obras monumentais, a par das grandes inovações: a Nona Sinfonia, a Missa Solene e os últimos Quartetos de cordas.

A obra de Beethoven alargou-se a todos os géneros musicais da sua época: compôs uma ópera, Fidelio; música para teatro (destaque para a abertura Egmont); ballet (As Criaturas de Prometeu), oratório (Cristo no Monte das Oliveiras), missas (destacando-se a Missa Solene), variações (notórias as variações de Diabelli). Mas viria a ser universalmente conhecido pelos quatro grandes ciclos dedicados às formas clássicas: as Sonatas, os Concertos, os Quartetos de cordas e as Sinfonias.

18 dezembro 2003

BEETHOVEN - OBRA (I)

Beethoven é reconhecido como o grande elemento de transição entre o Classicismo e o Romantismo. Toda a sua obra é fruto da sua personalidade sonhadora e melancólica, um tanto épica, e verdadeiramente romântica.

Não abandonou contudo as formas clássicas herdadas de Mozart e do seu “mestre” Haydn. Não obstante, foi capaz de alargar as fronteiras da arte, inovando através de um processo gradual, que acabaria por culminar em obras como os últimos Quartetos de cordas, radicalmente distantes dos de Mozart.

O estilo de Beethoven tem características marcantes: grandes contrastes de dinâmica (pianíssimo vs. fortíssimo) e de registo (grave vs. agudo), acordes densos, alterações de compasso, temas curtos e incisivos, vitalidade rítmica.

Os especialistas costumam dividir a sua obra em três fases, seguindo a linha definida pelo musicólogo Wilhelm von Lenz.

17 dezembro 2003

BEETHOVEN (III)

Beethoven Noutro campo, Beethoven nunca se casou, tendo a sua vida amorosa sido uma sucessão de insucessos e de sentimentos não correspondidos. Embora várias figuras femininas tenham cruzado a sua vida, uma das mais importantes terá sido Giulietta Guicciardi, a quem dedicou a sua Sonata ao Luar. Contudo, apenas um amor terá sido intensamente correspondido, conforme revelado em carta de 1812, dirigida a uma “Bem-Amada Imortal”, que se supõe seria Antonie von Birckenstock, casada com um banqueiro de Frankfurt - portanto, um amor “impossível”.

Compusera entretanto algumas das suas principais obras, sendo reconhecido, já em 1814, como o maior compositor do século.

Em 1815, com a morte do irmão Karl, lutou na justiça para ser o único tutor do sobrinho de 8 anos; ao fim de meses de um desgastante processo judicial, ganhou o direito a cuidar da criança, em detrimento da mãe, dada a sua conduta.

Voltaria, nos anos seguintes, com o agravamento da surdez, a passar uma fase de grande depressão, de que só reagiria em 1819, resultando, na década seguinte, numa larga “produção” de obras-primas, uma arte integralmente abstracta, uma vez que já não a podia – desde 1814 – ouvir: Sonatas para piano, Variações Diabelli, Missa Solene, Quartetos de cordas e a Nona Sinfonia (iniciada em 1817, mas apenas concluída em 1822, tendo sido executada pela primeira vez em 1825).

A sua obra constituir-se-ia numa influência decisiva para toda a música do século XIX, ao mesmo tempo que – dada a sua perfeição – nela colocava um ponto final, embora glorioso.

Numa época em que tinha grandes planos futuros (uma Décima Sinfonia, um Requiem, uma Ópera), acabou por ficar gravemente doente, tendo contraído uma pneumonia, além da cirrose e infecção intestinal que já o afectavam. Com uma vida coroada de glórias e sucessos, mas idoso, surdo e desamparado, entraria na imortalidade em 26 de Março de 1827, como o maior génio da música de todos os tempos.

16 dezembro 2003

BEETHOVEN (II)

Com 21 anos, em 1792, partiu definitivamente para Viena, tendo sido então aceite como aluno de Haydn, embora Beethoven logo procurasse complementar o seu estudo também com aulas junto de outros professores, nomeadamente Albrechtsberger (maestro de capela na Catedral de S. Estêvão), Salieri e Foerster.

Tornou-se, nesses primeiros anos em Viena, um pianista virtuoso, com sucesso nos meios aristocráticos, cultivando alguns admiradores; começou por publicar, em 1795, o seu Opus 1 e uma colecção de 3 trios para piano, violino e violoncelo.

Logo aos 25 anos, em 1796, surgiram os primeiros sintomas de uma grande tragédia, quando lhe foi diagnosticada uma congestão dos centros auditivos internos, prenúncio da sua futura surdez. Ao descobrir que a doença seria incurável, viria a afastar-se do convívio social, vivendo como compositor e professor, procurando ocultar este problema, que apenas revelaria dez anos depois.

Em 1800, com a surdez já bastante avançada, apresentou a Sinfonia n.º 1 em Dó Maior, Opus 21. Em 1802, na sequência de uma profunda depressão, chegando a pensar recorrentemente no suicídio, escrevera o “Testamento de Heiligenstadt” (localidade próxima de Viena), uma carta, inicialmente dirigida aos dois irmãos – que nunca chegaria a ser enviada – na qual reflectia, desesperado, sobre a tragédia da sua irreversível surdez e sobre a sua arte.

Seria a arte – a música, que via como uma verdadeira missão a cumprir – a impedi-lo de concretizar esse terrível pensamento, surgindo como única via de redenção, criando então a sua primeira monumental obra, a Sinfornia nº 3, “Heróica”, um ponto de mudança radical na história da música, tornando reconhecida a sua genialidade como compositor.

15 dezembro 2003

BEETHOVEN (I)

Beethoven Ludwig van Beethoven nasceu em 16 de Dezembro de 1770, junto ao Reno, em Bona, Alemanha, de ascendência holandesa, filho de Johan van Beethoven (músico na corte) e de Maria Magdalena; o avô, também Ludwig, fora maestro de capela.

Desde pequeno, o pai percebeu que o pequeno Ludwig dispunha de um talento invulgar, obrigando-o a estudar música durante inúmeras horas, todos os dias, logo desde os 5 anos, a cargo do professor Christian Gottlob Neefe, organista da corte.

Em 1779, começou a estudar a obra de Johann Sebastian Bach e aprendeu órgão, além de ter iniciado os seus estudos sobre composição, rapidamente dominando todo o reportório de Bach, sendo apresentado como um “segundo” Mozart; aos 11 anos, foi nomeado organista-suplente da corte. Era um adolescente introspectivo, tímido e melancólico. Aos 13 anos, já depois de abandonar a escola, trabalhava já como organista, cravista, ensaiador do teatro, músico de orquestra e professor, assumindo precocemente a chefia da família.

Em 1784, Beethoven conheceu um jovem Conde, chamado Waldstein, tornando-se seu amigo. Em 1787, o Conde, percebendo o seu grande talento, dirigiu-o a Viena, para receber aulas de Mozart; não obstante, Mozart não terá tido tempo de lhe prestar a atenção que esperava: na sequência da morte da mãe, Beethoven regressaria a Bona.

Começou então um curso de literatura, tendo os primeiros contactos com as ideias da Revolução Francesa, com o Iluminismo e com o “Tempestade e Ímpeto”, correntes da literatura alemã, de Goethe e Schiller.

14 dezembro 2003

VAN GOGH - "RETRATO DO DR. GACHET"

VanGogh-DrGachet"Encontrei em Gachet um verdadeiro amigo", escreveu van Gogh numa carta à irmã, "quase como um irmão".

Não se trata de um retrato por semelhança "fotográfica", mas sim de uma imagem impetuosa, recorrendo à cor como meio de expressão e como forma de engrandecer o carácter, procurando penetrar psicologicamente para revelar a alma do retratado.

Dizia o próprio van Gogh: "Estou a trabalhar no seu retrato; usa um boné branco, é muito loiro, muito claro, mesmo a pele das suas mãos é muito rosada; veste um casaco azul; o fundo é azul-cobalto; está apoiado numa mesa vermelha".

Esta pintura reflecte uma atitude mais tranquila e reflexiva, um desejo de ordem e calma; van Gogh refreia a sua imaginação, desaparecendo os arabescos, redemoinhos e as linhas exaltadas das telas de St.-Rémy. O retrato reflecte o carácter melancólico moderno e intelectual do Dr. Gachet.

A obra, vendida em leilão por 82,5 milhões de dólares, deteve o título de preço mais alto jamais pago por uma pintura!

E aqui termina esta maravilhosa viagem pela vida e obra de Vincent Willem van Gogh. A partir de amanhã, "a música" será outra!...

Resta referir os créditos de todas as imagens apresentadas nestas duas semanas: a The Vincent van Gogh Gallery.

13 dezembro 2003

VAN GOGH - "NOITE ESTRELADA"

VanGogh-Starry Night O tema desta pintura, também de 1889, quando van Gogh se encontrava no asilo de St.-Rémy, é o resultado de uma fantástica sobreposição de elementos reais e imaginários, provençais e nórdicos.

A imagem de belo, glorioso e magnífico das árvores da floresta a arder em direcção aos céus como tochas da alma; os ciprestes são as tochas da alma de van Gogh.

No espectáculo da noite estrelada, o pequeno povoado com a sua igreja, adormecido ao centro, tem um papel claramente secundário.

Depois do período de Arles, caracterizado pelo uso de cores primárias, van Gogh regressa ao cinzento, ao ocre e às cores misturadas. As linhas enrolam-se, unem-se em traços dinâmicos, criando redemoinhos, sublinhando os movimentos e os contornos com espirais. As pinceladas de amarelo e branco sobre o fundo azul-escuro, fazem com que as estrelas se abram como coroas brilhantes.

12 dezembro 2003

VAN GOGH - AUTO-RETRATO

VanGogh-Self-PortraitA profusão de auto-retratos - 35 realizados entre 1886 e 1889 - aliados à peculiar relação que manteve com o seu corpo, cujo ponto culminante é o episódio da mutilação da sua própria orelha, posteriormente retratado, coloca van Gogh como o artista que introduz o próprio corpo como matéria-prima da arte.

Para além de reflectir a sua vida psíquica e de actuar como suporte para o exercício de técnicas pictóricas, o exame continuado e sistemático do próprio corpo apresenta o artista como alguém que testa os seus próprios limites, que indaga sobre o enigma da própria existência.

A vivacidade do efeito visual não é de natureza física, mas de base fisiológica. Os pontos justapostos de cor pura provocam uma espécie de "pânico visual": o olhar compulsivo tenta misturar os diferentes tons. O princípio da mistura óptica funciona, ao mesmo tempo que implica uma constante sensação de agitação.

O quadro de 1889, pintado no Asilo de St.-Rémy, manifesta segurança e agressividade; tem rugas bem vincadas perto do nariz e das maçãs do rosto, as sobrancelhas são grossas e salientes e os cantos da boca estão virados para baixo. O retrato não é, não obstante, o de um rosto hostil, revelando vitalidade. As linhas serpenteantes e em forma de remoinho que surgem como pano de fundo são igualmente utilizadas na figura e nas roupas.

11 dezembro 2003

VAN GOGH - "O SEMEADOR"

VanGogh-The Sower As cores, a atmosfera e a paisagem da Provença congregaram pintores das mais variadas tendências ou estilos, unidos pela ideia de que na pintura a pesquisa em torno da cor era algo fundamental.

Para pintar desta forma, van Gogh tinha de libertar-se dos motivos originais e mergulhar na sua própria imaginação. Estava a criar imagens vindas de dentro de si.

10 dezembro 2003

VAN GOGH - "OS COMEDORES DE BATATAS"

VanGogh-PotatoEaters Tal como os restantes quadros realizados por van Gogh na mesma época, esta tela apresenta tons escuros e pesados, retratando os sentimentos do pintor pelos pobres trabalhadores das minas de carvão.

O quadro mostra cinco pessoas sentadas em torno de uma mesa tosca de madeira. A mulher mais nova tem uma travessa de batatas quentes a fumegar e, com uma expressão interrogativa, está a servir as doses. A mulher mais velha, à sua frente, deita nas canecas café de cevada e malte. O velho camponês bebe.

As três gerações de uma família camponesa vivendo em conjunto sob o mesmo tecto estão reunidas para esta frugal refeição. Um candeeiro a petróleo irradia uma luz fraca, mostrando a grande pobreza; ao irradiar a sua luz trémula sobre todos de forma igual, estabelece a unidade na aparência destas figuras preocupadas.

A labuta diária é visível nos rostos; mas os seus olhos indicam confiança, harmonia e satisfação pela sua vida em conjunto. É como se não houvesse um mundo lá fora para perturbar a sua tranquila reunião.

09 dezembro 2003

A ARTE DE VAN GOGH (II)

VanGogh-WheatFieldWithCrowsNatureza Morta, flores e campos: Novamente, como nos Retratos (e especialmente Auto-retratos), Vincent, em parte devido às suas dificuldades financeiras, preferiu pintar uma tigela de fruta, um vaso de flores ou um par de sapatos, ao invés de pintar modelos vivos.

Girassóis: A série de Girassóis é característica da obra de van Gogh, sendo imediatamente reconhecida em qualquer parte do mundo. A maioria da série foi pintada em 1888 em Arles, enquanto aguardava a chegada de Paul Gauguin, na famosa "Casa Amarela". Nessas obras, ao contrário de tantas outras, o artista revela uma sensação de felicidade, explorando a sua cor favorita, o amarelo.

Período da Provença: Vincent passou quase dois anos na Provença, tendo realizado alguns dos seus melhores trabalhos: "O Terraço de Café no Fórum", "O Café Nocturno em Lamartine" e a clássica "Noite Estrelada". Neste período, ao mesmo tempo que o brilho artístico de Vincent deslumbra, o seu estado físico e mental degradam-se de forma significativa.

Asilo em St.-Rémy: Durante a convalescença no asilo em St.-Rémy, van Gogh dedicou algum do tempo ao estudo de pintores que admirava. Alguns dos seus melhores trabalhos podem ser vistos depois dos estudos sobre o pintor Millet: "Meio-dia", "Descanso do Trabalho" ou "Primeiros Passos".

O Fim: Os trabalhos finais de van Gogh são um paradoxo o que, provavelmente, nenhum outro trabalho mostrará melhor do que "Campo de Trigo com Corvos" . Muitos sentem que os céus dramáticos e tempestuosos, como também o campo de trigo, agitando-se, com os corvos que fogem, poderão constituir uma reflexão clara do próprio estado mental de Vincent nos seus últimos dias.

08 dezembro 2003

A ARTE DE VAN GOGH (I)

VanGogh-Sunflower.bmp O estilo de van Gogh: nem impressionista, nem expressionista… o artista definiu a sua própria forma de pintar; as suas pinceladas praticamente “falavam” sobre o que estava a sentir e pensar. Desta forma, pode ser considerado um pintor pós-impressionista ou pré-expressionista!

Efectivamente, apenas contactou com os pintores impressionistas em 1886, quando já era um artista consumado; apesar da aproximação a Toulouse-Lautrec, Paul Signac e Georges Pierre Seurat, o seu caminho foi sempre muito singular.

Para facilitar o entendimento das obras de van Gogh, elas são geralmente classificadas de acordo com diferentes formas de as interpretar, sendo a classificação a seguir apresentada apenas uma das categorizações possíveis.

Os primeiros trabalhos: Os desenhos e pinturas tendem a centrar-se nas vidas de camponeses e trabalhadores pobres, além das paisagens desertas nas quais viviam. Vincent teve uma grande admiração pelos trabalhadores do campo, o que retratou nas suas telas. O uso das cores mais escuras pode sugerir uma atmosfera melancólica ("Os Comedores de Batatas").

Período em Paris: A ida de Vincent para Paris em 1886 provocou uma profunda mudança, aproximando-o de outros artistas: Monet, Renoir, Degas, entre outros.

Os "japoneses": O período durante o qual Vincent pintou no estilo japonês tradicional foi bastante breve.

Os Retratos e Auto-Retratos: Vincent pintou muitos retratos ao longo da carreira, nomeadamente, os Auto-retratos, quando não podia dispor de modelos. Entre os retratos, encontra-se o famoso "Retrato de Doutor Gachet" (a tela mais cara do mundo). Dos Auto-Retratos, destaca-se o "Auto-retrato Sem Barba", de 1889, que, em Novembro de 1989, entrou para a galeria dos cinco quadros mais caros do mundo.

07 dezembro 2003

VAN GOGH (VII)

VanGogh-Self-Portrait Em 27 de Julho de 1890, Vincent sai para um passeio e dispara sobre si mesmo no tórax com uma pistola. Consegue cambalear até casa durante a noite, nada dizendo sobre o seu estado. Acaba por ser encontrado ferido no seu alojamento, sendo chamado um médico, que, contudo, não consegue remover a bala.

As últimas horas de Vincent são muito semelhantes aos dois últimos anos da sua vida, variando desde a completa angústia mental até uma aparente satisfação. Depois de tentar o suicídio, Vincent passa o pouco tempo que lhe resta sentado na cama, fumando cachimbo, sempre com Theo a seu lado. Próximo da sua morte, Theo deita-se na cama ao seu lado, amparando-lhe a cabeça nos seus braços. Vincent diz-lhe: "Eu gostaria de morrer assim."

Génio, autodidacta, marginalizado, sujeito a acessos de loucura, com uma carreira fulgurante, concentrada apenas nos seus últimos 5 anos de vida, Vincent morreria na manhã de 29 Julho, sendo a sua urna coberta com dúzias de girassóis, que ele tanto amara. Nunca se recuperando da morte do irmão, Theo morreria em Janeiro de 1891; repousam lado a lado em Auvers.

Em 1960, foi criada a Fundação Vincent van Gogh, com o objectivo de preservar os trabalhos que pertenciam à família; em 1973, foi inaugurado o Museu de van Gogh, contendo centenas de trabalhos de Vincent, assim como um enorme arquivo contendo cartas e documentos.

Em 1990, no centenário da sua morte, o Museu van Gogh apresenta uma exposição retrospectiva com mais de 120 pinturas. Vincent van Gogh, que apenas vendera uma pintura em vida (“O Vinhedo Vermelho”), acabaria por ter a sua obra “O Retrato do Dr. Gachet” vendido em leilão por 82,5 milhões de dólares, o preço mais alto até então jamais pago por uma pintura.

06 dezembro 2003

VAN GOGH (VI)

VanGogh-Evening Landscape with Rising Moon No ano de 1889, o estado mental de Vincent flutua intensamente; por vezes parece tranquilo e coerente, outras vezes sofre de alucinações e ilusões.

Vincent regressa à "Casa Amarela", onde continua a trabalhar esporadicamente, mas a frequência crescente dos ataques levam-no a ser internado no asilo de doentes mentais de Saint-Paul-de-Mausole em Saint-Rémy-de-Provence.

Quando é capaz, Vincent continua com as suas pinturas de paisagens (da famosa série de oliveiras e ciprestes), mas é frequentemente forçado a parar quando os ataques retornam (uma vez tentou envenenar-se ingerindo as suas próprias tintas). Ironicamente, à medida que o estado mental de Vincent se deteriora continuamente ao longo do ano, o seu trabalho começa finalmente a ser reconhecido na comunidade artística.

Depois de um ataque sério em Fevereiro de 1890, que dura dois meses, decide-se que Vincent se deve mudar para mais perto de Theo e ser colocado aos cuidados do Dr. Paul Gachet. Em Maio, Vincent muda-se para Auvers-sur-Oise, a noroeste de Paris e, sob os cuidados do Dr. Gachet, começa a pintar com incrível energia, produzindo mais de 80 pinturas nos dois últimos meses da sua vida, que assinou sempre com o nome próprio Vincent.

Apesar dessa intensa actividade, o seu estado mental vai-se agravando, talvez por se considerar como um fardo para Theo e para a família.

JANELA PARA O RIO

Obrigado ao Janela para o Rio, um dos blogs mais activos da blogosfera portuguesa, "sempre em cima do acontecimento".

05 dezembro 2003

VAN GOGH (V)

VanGogh-Wheat Field Under Clouded Sky Em 1888, deixa Paris e muda-se para Arles, possivelmente por sugestão de Toulouse-Lautrec, fascinando-se com o brilho da luz do Sul e com suas cores quentes.

Começa a pintar as paisagens da Provença, com as suas flores, passando algum tempo na “Casa Amarela”. É extremamente produtivo neste período, quando pinta o litoral (em Saintes-Maries-de-la-Mer), tal como muitos dos seus auto-retratos mais famosos, assim como a série do carteiro, Joseph Roulin. Aguarda a chegada do amigo, Paul Gauguin, com o qual sonha poder montar uma comunidade de artistas.

Gauguin chega finalmente em Outubro, passando a viver e trabalhar juntos. Entretanto há momentos turbulentos, nos quais discutiam fervorosamente sobre arte; essas discussões são descritas por Vincent como "tensão excessiva"; em apenas dois meses, estes desentendimentos levam a uma séria deterioração do relacionamento entre ambos.

A relação de amizade acaba por ser destruída; em 23 de Dezembro, Vincent teria atacado Gauguin com uma navalha de barbear; imediatamente depois do ataque, Vincent perde toda a razão e corta o lóbulo da orelha esquerda, que embrulha num jornal e com que presenteia uma prostituta. Epilepsia, alcoolismo e esquizofrenia são as causas apontadas para este ataque de Vincent, que levam à sua hospitalização. De seguida, Theo chega de Paris para cuidar do irmão.

04 dezembro 2003

VAN GOGH (IV)

VanGogh-Lane at the Jardin du LuxembourgDepois da morte do pai, em 1885, Vincent realiza a sua primeira grande pintura, a principal obra do período holandês: “Os Comedores de Batatas” (que considerou mesmo o seu quadro mais bem conseguido). Amplia as suas experiências, incluindo uma maior variedade de cores, interessando-se por xilogravuras japonesas.

No ano seguinte, mais uma vez, tenta obter uma educação artística mais formal, na École des Beaux-Artes, mas acaba por rejeitar muitos dos princípios que lhe são ensinados, o que o conduz ao abandono. Submete alguns dos seus trabalhos à Academia de Antuérpia, sendo colocado numa classe de principiantes, mas não se consegue adaptar novamente, regressando a Paris e passando a viver com o irmão Theo.

Inicia estudos no atelier de Cormon (1845-1924), conhecendo outros “estudantes”: John Russell (1858-1931), Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901) e Emile Bernard (1868-1941). Paralelamente, Theo, que trabalha na Boussod & Valadon, que administra uma galeria de arte em Montmartre, apresenta a Vincent os trabalhos dos Impressionistas: Claude Monet, Pierre Renoir, Camille Pissarro, Edgar Degas e Georges Seurat, cujos trabalhos viriam a ter uma influência profunda em Vincent e no seu uso das cores. Torna-se amigo do pintor Paul Gauguin, uma relação turbulenta que viria a ser decisiva na sua vida.

03 dezembro 2003

VAN GOGH (III)

VanGogh-Boulevard de ClichyAinda em 1881, o pintor Anton Mauve (1838-1888) introduz-lhe a técnica da aguarela, começando a pintar as primeiras naturezas-mortas a óleo e aguarela.

No ano seguinte, muda-se para Haia, passando a morar perto de Mauve, que lhe dá aulas de pintura e lhe empresta dinheiro. Conhece Clasina Maria Hoornik (conhecida como Sien), uma prostituta, com uma filha de 5 anos, com as quais passa a morar.

Continua os estudos e pinta com alguns conhecidos pintores (Jan Hendrik Weissenbruch e George Hendrik Breitner), mas o seu estado físico vai-se deteriorando, sendo hospitalizado durante três semanas por causa de uma gonorreia. Quando sai do hospital, Vincent começa a experimentar a técnica de pintura a óleo, pintando muito a natureza. Utiliza-se de Sien e de uma outra criança recém-nascida como modelos.

Depois de mais de um ano juntos, termina a sua relação com Sien, o que o leva a procurar uma vida dedicada exclusivamente ao trabalho. Viaja para Drenthe (Holanda) e pinta as paisagens desertas, assim como os camponeses. Mais tarde, vai para Nuenen, morando com os pais; monta um pequeno estúdio para trabalhar, continuando sempre a contar com o apoio financeiro do irmão Theo.

Em 1884, inicia uma relação com a filha de um vizinho, Margot Begemann, contudo ambas as famílias são contrárias ao casamento, o que leva Margot a tentar envenenar-se.

02 dezembro 2003

VAN GOGH (II)

VanGogh-Marguerite in the GardenEm 1877, abandonaria Inglaterra, iniciando um trabalho temporário numa livraria em Dordrecht, o qual contudo não o satisfez também, rapidamente se deslocando para Amsterdão, onde desenvolve estudos religiosos.

No ano seguinte, numa tentativa de dar forma a essa vocação religiosa, vai para Borinage (Bélgica), uma região de minas de carvão, perto da fronteira francesa, em que vive num ambiente de grande pobreza, lendo a Bíblia aos mineiros. Algumas das suas gravuras retratam esta fase, caracterizando-se por falta de luz e opressão retratada na atmosfera escura.

Neste período, dedica toda a sua energia a ajudar os mineiros, dando-lhes roupas e comida. Mas viria a perder o trabalho em Borinage, o que lhe provocou uma depressão, ao perceber que os seus esforços tinham sido em vão. Não obstante, muda-se para Cuesmes, para continuar trabalho semelhante ao da ajuda aos mineiros. Paralelamente, começa a renovar-se o seu interesse pela pintura.

Em 1880, abandona as questões religiosas, dedicando-se exclusivamente à pintura dos mineiros e tecelões pobres. Dada a sua precária situação financeira, começa a ser apoiado financeiramente pelo irmão Theo. Nesse ano, começa a ter estudos de anatomia e perspectiva na Academia de Artes de Bruxelas.

No ano seguinte, é devastado pela rejeição pela prima Cornelia Adriana Vos-Stricker (Kee), que lhe provoca uma depressão.

01 dezembro 2003

VAN GOGH (I)

Van GoghVincent Willem van Gogh nasceu em 30 de Março de 1853, na pequena aldeia de Groot-Zundert, próximo de Breda, no sul da Holanda (fronteira com a Bélgica), filho do pastor da Igreja protestante Theodorus van Gogh (1822-1885) e de Anna Cornelia Carbentus (1819-1907).

Em 1857, nasceu o seu irmão Theodorus (Theo), que o acompanhou e apoiou durante toda a vida.

A educação escolar de Vincent inicia-se em Zevenbergen, aprendendo francês, inglês e alemão. Em 1866, frequenta o internato estatal Rei Wilhelm II, em Tilburg, escola que reservava algumas horas ao estudo da arte.

Após a conclusão dos estudos, em 1869, Vincent começa a trabalhar como aprendiz na filial de Haia (fundada pelo seu tio) da Goupil & Cie., sociedade de negociantes de arte de Paris. Viria a transferir-se para a filial de Londres em 1873, aproveitando para visitar museus e galerias, alargando o seu conhecimento das artes. Começa contudo a revelar pouco interesse pelas suas tarefas, sendo transferido para Paris em 1874; contudo, regressaria, ainda no mesmo ano, a Londres.

Em 1876, demite-se do emprego, deslocando-se para Ramsgate (Inglaterra), iniciando-se de seguida como professor, com o Reverendo T. Slade Jones, um padre metodista. Ao mesmo tempo que o seu fervor religioso aumenta, deteriora-se o seu estado físico e mental.

ASSINATURA…

Possivelmente, alguns o saberiam… Eventualmente, outros o “suspeitariam” (?)… A “assinatura” que utilizei nas “entradas” deste “blogue” (L...