31 março 2004

HAITI

O Haiti partilha com a R. Dominicana a ilha de Hispaniola, ocupando a extremidade ocidental.

O país nasceu da revolta dos escravos africanos que haviam sido levados para o território para trabalhar nas plantações dos colonos franceses e espanhóis, tendo sido a primeira República "negra" do mundo.

É bastante montanhoso, sendo coberto por espessas florestas; os vales, mais secos, têm uma vegetação de savana.

O país foi quase sempre governado em regime de ditadura pelos Duvalier, pai e filho (1957-1986), após o que lhes sucedeu Aristide, com o apoio norte-americano, entretanto recentemente deposto; atravessa uma grave crise, dada a instabilidade, associada à sua pobreza, provocando um êxodo migratório para a vizinha R. Dominicana.

A capital localiza-se em Port-au-Prince. O país tem uma superfície de 27 750 km2, sendo densamente povoado, por cerca de 7 milhões de habitantes.

30 março 2004

DOMINICA

Dominica

O nome do país (situado entre as possessões francesas de Guadalupe e Martinica) deriva do latim "dies dominica" ("Dia do Senhor"), dado que  foi num Domingo, a 3 de Novembro de 1493, que Cristóvão Colombo descobriu e "baptizou" a ilha. Diz-se que a Dominica seria a ilha que Colombo menos dificuldade teria em reconhecer, pois mudou muito pouco desde a sua descoberta.

"A Ilha da Natureza" das Caraíbas é luxuriante, verde, montanhosa e, quase sempre, de grande humidade.

De origem vulcânica, a ilha apresenta uma cadeia montanhosa (com o pico mais alto a 1447 m de altitude) coberta por densas florestas. Ao centro, situa-se uma planície, onde correm os rios Layou e Quanery.

Os belicosos habitantes desencorajavam os colonizadores europeus, tornando-se o seu interior selvagem um refúgio para os escravos fugitivos. Foi colónia inglesa entre 1805 e 1978, retendo alguns vestígios dos seus antigos senhores coloniais. Apesar de a língua oficial ser o inglês, a maior parte dos habitantes fala um dialecto francês.

A capital localiza-se em Roseau, dispondo o país de uma superfície de 750 km2, com cerca de 70 000 habitantes.

A principal fonte de receitas é a exportação de bananas, café, cacau e cocos.

29 março 2004

BARBADOS

BarbadosA ilha de Barbados - com uma forma de "pêra", medindo 23 km por 34 km - é a mais oriental das Antilhas, distando 400 km da Venezuela e cerca de 160 km a este da cadeia das ilhas do Barlavento.

Foi reconhecida pelos aventureiros espanhóis e portugueses - que lhe chamaram "Los Barbudos" ou "Os Barbados", devido às árvores banyan (figueira indiana), com raízes aéreas até ao chão -, mas não colonizada. Estava desabitada quando, em 1625, os ingleses a reclamaram. O país tornou-se independente em 1966.

A capital, Bridgetown, foi fundada pelos ingleses em 1628. O território tem 430 km2, dispondo de cerca de 265 000 habitantes.

Tradicionalmente, as principais actividades económicas eram a plantação da cana-de-açúcar e a destilação do rum. Actualmente, são as receitas do turismo a assumir preponderância.

28 março 2004

BAHAMAS

Originariamente chamadas Lucayanas, as Bahamas (derivado de “baja-mar”, ou “maré baixa”) foram descobertas por Cristóvão Colombo em 1492; a 12 de Outubro, terá atracado a Guanahani, primeiro contacto com o Novo Mundo, terra a que chamou San Salvador.

São constituídas por um arquipélago de cerca de 700 ilhas e mais de 2000 recifes de coral, que se estendem por uma área de cerca de 260 000 km2. Apenas cerca de 20 ilhas se encontram habitadas.

Foi colónia britânica durante 300 anos, tendo alcançado a independência em 1973.

A capital localiza-se em Nassau. O país dispõe de uma superfície de 13 930 km2, sendo povoado por cerca de 280 000 habitantes.

O turismo e as pescas são actividades importantes, a par de instituições financeiras, estabelecidas no território, dada a adopção de regime fiscal mais favorável.

27 março 2004

ANTÍGUA E BARBUDA

AntiguaSituadas a sul das ilhas de Sotavento, Antígua e Barbuda formam uma república independente nas Pequenas Antilhas. A maior das ilhas, Antígua, foi descoberta em 1493 por Cristóvão Colombo que lhe atribuiu este nome em memória da Igreja de Santa Maria de Antígua, em Sevilha.

Os seus primeiros habitantes foram o povo Siboney, migrante da América do Sul, há cerca de 4 mil anos. Uma colónia inglesa oriunda de St. Kitts estabeleceu o primeiro povoamento europeu, em 1632.

Colónia britânica desde 1632 (tendo passado por dois curtos períodos de ocupação francesa e espanhola), o país tornou-se independente em 1981. Tem capital em St. John's, dispondo de uma superfície total de 442 km2, e cerca de 85 000 habitantes.

O litoral é muito recortado (diz-se que tem 365 praias, uma por cada dia do ano...), com baías e cabos. A ilha de Barbuda situa-se 40 km a norte de Antígua.

As principais receitas do país são o turismo, a pesca e agricultura, para além do tradicional açúcar. A língua oficial é o inglês.

CARAÍBAS

MapaCaraibas

(via Maps of Mexico).

26 março 2004

AMÉRICA (VI)

América do Norte
- Canadá - 9 974 375 km2
- EUA - 9 529 063 km2
- México - 1 967 138 km2
- Bermudas (território britânico) - 54 km2
- Gronelândia (território dinamarquês) - 2 175 600 km2
- São Pedro e Miquelon (território francês) - 242 km2

América Central
- Belize - 22 965 km2
- Costa Rica - 51 100 km2
- El Salvador - 21 041 km2
- Guatemala - 108 889 km2
- Honduras - 112 088 km2
- Nicarágua - 130 700 km2
- Panamá - 75 517 km2

Antilhas
- Cuba - 110 861 km2
- República Dominicana - 48 443 km2
- Haiti - 27 400 km2
- Jamaica - 10 991 km2
- Porto Rico - 9 104 km2
- Anguila / Antígua e Barbuda / Aruba / Bahamas / Barbados / Curaçau / Dominica / Granada / Guadalupe / Ilhas Virgens / Martinica / Montserrat / Santa Lúcia / São Vicente e Grenadinas / St. Kitts e Nevis

América do Sul
- Argentina - 2 780 092 km2
- Bolívia - 1 098 581 km2
- Brasil - 8 511 965 km2
- Chile - 756 626 km2
- Colômbia - 1 141 748 km2
- Equador - 270 667 km2
- Guiana - 215 083 km2
- Guiana Francesa - 86 504 km2
- Paraguai - 406 752 km2
- Perú - 1 285 216 km2
- Suriname - 163 820 km2
- Uruguai - 176 215km2
- Venezuela - 912 050 km2

25 março 2004

AMÉRICA (V)

“A história da América Latina confunde-se com a das civilizações pré-hispânicas (com os Toltecas, Astecas, Maias e Incas). A conquista europeia começa em 1519 quando Cortés desembarca no México. No Sul, Pizarro torna-se senhor do Império Inca (1530-32). Em menos de 30 anos, os espanhóis estão instalados no continente. Em 1530, as instituições portuguesas funcionam também plenamente no Brasil.

Em meados do século XVI, a sociedade colonial está totalmente implantada no Novo Mundo (espanhol e português). No domínio espanhol, as melhores terras são confiscadas aos índios para a construção de grandes propriedades nas quais os conquistadores utilizam mão-de-obra local com a autorização da Coroa, e com a obrigação de a evangelizar. Desenvolve-se por todo o continente uma economia de plantação, ao mesmo tempo que as minas de ouro e prata são exploradas. Além das consequências económicas e culturais, há que salientar as consequências biológicas desta colonização: as epidemias levam ao desmoronamento da população índia; escravos negros são trazidos de África.

O período entre 1808 e 1825 é caracterizado pela emancipação das colónias americanas, tanto espanholas como portuguesas. Em muitos casos, os generais que chefiavam as lutas pela independência sobem ao poder nos novos países que, em muitos casos, se transformam em ditaduras. A instabilidade política, causada por guerrilhas internas e por guerras externas, não ajuda o frágil desenvolvimento económico, baseado quase exclusivamente na produção de matérias-primas.

A democratização política sentida a partir das últimas décadas não impede a continuação das guerrilhas e de outros problemas, como a produção e tráfico de droga.”

“A Enciclopédia”, vol. 1, edição Editorial Verbo, SA / Público, 2004, p. 440

24 março 2004

AMÉRICA (IV)

“Os colonos ingleses, a partir dessa data senhores de um imenso país que valorizavam e onde levavam uma vida muito rude, suportavam dificilmente a tutela da metropolitana. Quando Londres decidiu, sem os consultar, atribuir-lhes pesadas taxas (imposto sobre os selos e o chá), rebentou o conflito. 

Em 1773, os colonos mais exaltados lançam ao mar em Boston a carga de três navios carregados de chá (Boston Tea Party). O Governo inglês reage com medidas de repressão, enquanto os colonos organizam uma milícia de «cidadãos». O primeiro recontro militar deu-se em Lexington em 19.4.1775. A 10 de Maio do mesmo ano, um «Congresso Continental», reunido em Filadélfia, agrupou todas as milícias sob o comando de George Washington. Em 4.7.1776, para responder ao bloqueio das colónias organizado pelos Ingleses, os rebeldes publicam a Declaração de Independência dos Estados Unidos, redigida por Thomas Jefferson. depois do brilhante triunfo de Saratoga (1777), os Americanos são apoiados pela França que envia sucessivamente dois corpos de voluntários (La fayette e Rochambeau), secundados pela Espanha e Países Baixos. Em 1781, a capitulação do general Cornwallis, em Yorktown, põe praticamente fim às hostilidades e a Inglaterra reconhece oficialmente, pelo Tratado de Versalhes de 1783, a independência dos Estados Unidos da América, formados por 13 antigas colónias.”

“A Enciclopédia”, vol. 1, edição Editorial Verbo, SA / Público, 2004, pp. 439, 440

23 março 2004

AMÉRICA (III)

“Os Espanhóis, depois da conquista do México por Cortés, exploraram parte da América do Norte. Procuraram em vão metais preciosos, depois desinteressaram-se. Em 1585, Walter Raleigh estabeleceu na Virgínia a primeira colónia inglesa sem sucesso duradoiro. Na verdade, a verdadeira colonização do país só começaria no século XVII com a instalação dos Ingleses ao longo das costas atlânticas, enquanto os Franceses, descendo do Canadá e subindo o golfo do México, exploravam a bacia do Mississípi, da qual se apoderariam em nome do rei Luís XIV (o cavaleiro De La Salle dá o nome de Luisiana a este vasto território). As colónias inglesas tiveram uma expansão e povoamento rápidos (1 200 000 habitantes no século XVIII). Em contrapartida, as colónias francesas, apesar dos esforços de Law (fundação de Nova Orleães, em 1718), serão negligenciadas por muito tempo. Os colonos gozavam de grande autonomia; devido em parte ao afastamento da metrópole e para ajudar a desenvolver o país, mandam vir escravos africanos, tradicionalmente agricultores, sobretudo para os territórios do Sul. As guerras europeias tiveram repercussões na América, onde se defrontaram os Franceses e os Ingleses; estes últimos, em número superior e melhor apetrechados, acabaram por vencer, pelo que a França teve de ceder a maior parte da suas possessões pelo Tratado de Paris de 1763.”

“A Enciclopédia”, vol. 1, edição Editorial Verbo, SA / Público, 2004, p. 439

22 março 2004

AMÉRICA (II)

“Pouco se sabe das populações primitivas que povoaram o Norte do continente americano. Os numerosos túmulos encontrados na bacia do Mississípi apenas permitem supor que esta região foi habitada por tribos vindas da Ásia, das quais descenderiam os peles-vermelhas. Os Vikings, estabelecidos na Islândia, foram certamente, com Erik, o Vermelho, os primeiros europeus a descobrir a América do Norte. De facto, desde o século X, eles chegaram às costas do Labrador, mas não se estabeleceram definitivamente e foi só a partir do século XV que a Europa teve a revelação do Novo Mundo, com a chegada de Cristóvão Colombo em 1492. Depois das viagens de Cabot (América do Norte, 1497), Pedro Álvares Cabral (Brasil, 1500) e Fernão de Magalhães (1520), o traçado da costa oriental daquele continente ficou conhecido nas suas grandes linhas. A sua forma precisa fica definitivamente estabelecida depois da viagem de Balboa ao Panamá (1513) e das expedições de Cortés (México, 1519), Cartier (Canadá, 1534) e Soto (Florida e Mississípi, 1541).”

“A Enciclopédia”, vol. 1, edição Editorial Verbo, SA / Público, 2004, pp. 438, 439

21 março 2004

AMÉRICA (I)

Caravelas.bmp "Superfície: 39 milhões de km2, população: 900 milhões de habitantes.

A América, o segundo maior continente, ocupa 28 % da superfície terrestre e alberga 14 % da população mundial. É limitada a ocidente pelo oceano Pacífico e a oriente pelo Atlântico; a norte quase toca a Ásia no estreito de Bering, sendo o ponto mais a sul o cabo Horn. É formada por dois grandes blocos, América do Norte e América do Sul. entre estas, desde o México ao Panamá, situa-se a América Central.

O relevo apresenta, nas duas Américas, um aspecto simétrico. A O, ao longo da costa do Pacífico, nota-se a existência de uma cadeia de montanhas recentes, orientadas no sentido norte-sul. No Centro o relevo é formado por extensas planícies, enquanto a E. predominam as cadeias montanhosas gastas pela erosão.

1. Montanhas. Do Alasca à Terra do Fogo, estende-se uma cadeia contínua formada pelas Montanhas Rochosas e pela Cordilheira dos Andes, onde se encontram numerosos vulcões (Alasca, México, Chile). Toda a costa O da América é afectada, com frequência, por sismos.

2. Planícies. Tanto na América do Norte como na América do Sul, a parte centrela do continente é formada por uma larga bacia de drenagem, onde correm extensos rios. A pradaria canadiana é drenada, a norte, pelo Mackenzie e seus afluentes. a E pelo Saskatchewan; a bacia do Mississípi estende-se por todas as planícies centrais dos EUA. Na América do Sul, a bacia do Orenoco e a do Amazonas prolongam-se, ao sul, pela do Paraguai-Paraná.

3. Os planaltos antigos formam o relevo da parte este das duas Américas. O antigo soco do escudo canadiano é ladeado, a E, pela cadeia hercínica dos Apalaches, que se prolonga, ao Sul, até ao golfo do México. Na América do Sul, o Amazonas separa o planalto das Guianas do Brasil e o planalto da Patagónia une-se aos Andes na extremidade sul do continente."

"A Enciclopédia", vol. 1, edição Editorial Verbo, SA / Público, 2004, pp. 432, 433

Réplicas das Caravelas que descobriram o "Novo Mundo" (foto: revista Hola! especial, Madrid, 1992)

20 março 2004

DESEMBARQUE EM SAN SALVADOR (BAHAMAS) / CARTA DE COLOMBO AOS REIS CATÓLICOS

SanSalvadorCartaColombo

Desembarque em San Salvador (Bahamas) / Carta de Colombo, relatando a viagem ao "Novo Mundo" (Arquivo de Simancas, Espanha)

(fotos: revista Hola! especial, Madrid, 1992)

19 março 2004

18 março 2004

CRISTÓVÃO COLOMBO (IV)

Entretanto, juntamente com o seu irmão Bartolomeo, havia fundado a capital de Santo Domingo, ao qual atribuiu o governo das novas terras, mas que viria também a sofrer uma rebelião, devido às pesadas taxas impostas.

Teria muitas dificuldades em conseguir formar a tripulação para a sua terceira viagem, para o que teve de recorrer a condenados pela justiça. Entre 1498 e 1500, chegou às ilhas de Granada e Trinidad e Tobago. Apenas nesta terceira viagem, chegaria efectivamente ao continente americano.

Para além da escassez das prometidas riquezas, Colombo viria mesmo a ser acusado de tirania e abuso de poder, levando os reis a nomear uma comissão para analisar a situação. Em 1500, Francisco de Bobadilla é enviado à América, mandando prender Colombo e o irmão, que seriam deportados para a Europa. Viriam contudo a ser absolvidos e recompensados pela coroa espanhola.

Colombo viria a realizar a sua quarta viagem entre 1502 e 1504, navegando nas Antilhas, chegando à Martinica. O governador de La Hispaniola proibiria o desembarque de Colombo, que depois de ancorar por um período em Santo Domingo, seguiria para as Honduras e, finalmente, chegando ao Panamá.

Em 1504, retornou definitivamente à Europa. Após a morte da rainha Isabel, nesse ano, viria a desentender-se com o Rei Fernando, sendo-lhe retirados todos os privilégios como governador das novas terras.

Cristóvão Colombo faleceu em Valladolid a 20 de Maio de 1506, sem ver devidamente reconhecidos os seus feitos que abriram novos mundos à humanidade. Até ao fim da vida, acreditou ter chegado à Ásia, sem saber que tinha descoberto um novo continente.

Em 1542, o corpo seria exumado e levado novamente para a R. Dominicana, até que, em 1899, retornaria a Espanha, onde repousa na Catedral de Sevilha.

17 março 2004

CRISTÓVÃO COLOMBO (III)

Colombo A 11 de Outubro, finalmente era avistada terra; no dia seguinte (12 de Outubro) Colombo chegava ao arquipélago das Bahamas, nas Pequenas Antilhas, pensando ter alcançado Catai (China) ou o reino de Cipango (Japão), baptizando a terra com o nome de San Salvador.

Pouco depois, chegaria a Cuba e à ilha de La Hispaniola (ilha onde se localizam hoje a R. Dominicana e o Haiti), chamando aos seus habitantes índios.

Em Dezembro de 1492, a caravela Santa Maria naufragava próximo da costa de La Hispaniola, passando então Colombo a comandar a Niña.

Ainda antes do regresso a Espanha em Março de 1493, manda construir em La Hispaniola, o forte de La Navidad. Voltaria ao “Novo Mundo” por mais três vezes.

A América (cujo nome apenas seria mais tarde atribuído, em homenagem a Américo Vespucci – amercador e navegador italiano, que seria o primeiro a constatar que as recém-descobertas terras do Novo Mundo constituíam um continente e não parte da Ásia) descoberta por Colombo centra-se nas ilhas do Caribe, nas costas da América Central e na “terra firme” da Venezuela.

Na segunda viagem, partiu de Cádiz com 17 navios. Entre 1493 e 1496, explorou o Caribe, descobrindo as ilhas de Dominica, Guadalupe, Jamaica e Porto Rico.

Em Novembro de 1493, o forte de La Navidad seria atacado e destruído. Na mesma época, fundou a primeira colónia europeia nas Américas, na actual R. Dominicana, a que deu o nome de Isabela. Contudo, os seus colonizadores (cerca de 1 500 homens), não encontrando nela as riquezas esperadas rebelam-se também, pretendendo regressar a Espanha.

16 março 2004

CRISTÓVÃO COLOMBO (II)

Em 1485, já viúvo, fixa-se em Espanha com o filho Diego, vindo a conhecer, em Córdoba, Beatriz Enríquez, de quem teria o filho Fernando, posteriormente um dos seus biógrafos.

Também em Espanha, não foi inicialmente bem sucedido na sua tentativa de levar por diante o projecto da sua vida. Conheceria então, em Palos, Martím Alonso Pinzón, posteriormente seu aliado na expedição que o levou a descobrir a América, o qual assumiria um papel relevante na obtenção das embarcações utilizadas na viagem: as caravelas Niña e Pinta e a nau Santa Maria.

Finalmente, em 1491, conseguiria obter o apoio dos “Reis Católicos”, Fernando de Aragão e Isabel de Castela, conseguindo ainda assegurar alguns privilégios, como o de se tornar vice-rei das terras a conquistar, assim como de receber um décimo das riquezas que encontrasse.

A 3 de Agosto de 1492, partia do porto de Palos a expedição, composta por uma tripulação de cerca de 90 homens condenados, não incluindo qualquer representante religioso.

Fariam uma paragem forçada nas Ilhas Canárias, para reparar danos na caravela Pinta, retomando, em 6 de Setembro, a sua rota, a qual seria alterada a 7 de Outubro, por sugestão de Pinzón, dirigindo-se a Sudoeste.

Ao longo da viagem, foi aumentando o descontentamento da tripulação, tendo associado elevado risco de motim, com os tripulantes a exigir o regresso a Espanha.

15 março 2004

CRISTÓVÃO COLOMBO (I)

Colombo Supõe-se que Cristóvão Colombo tenha nascido em Génova, Itália, cerca de 1451, filho de Domenico Colombo, artesão e tecelão em Génova, não sendo conhecidas muitas informações sobre os seus primeiros anos de vida, julgando-se que não tenha adquirido uma formação escolar muito desenvolvida.

Cedo iniciou as suas experiências no mar, iniciando-se como marinheiro aos 14 anos, viajando pela Europa e pela costa africana, chegando até à Guiné.

Em 1476, naufragou na costa portuguesa, ao largo do Algarve, aportando a Lagos, de onde partiram vários exploradores de África. Estabelecer-se-ia então em Lisboa, onde já vivia o seu irmão Bartolomeo.

Em 1480, casaria com Filipa Moniz, a filha do navegador Bartolomeu Perestrelo (donatário da ilha do Porto Santo), aí se fixando. Na biblioteca do sogro, estudaria as rotas marítimas. Adquiriria então conhecimentos ligados à navegação e à cartografia, havendo quem defenda que foi Portugal que fez de Colombo, “Colombo”, ao reunir às suas características de navegador mediterrânico (na tradição genovesa e catalã), o conhecimento português do Atlântico.

Começava então a desenvolver o projecto de chegar à Índia por mar, navegando sempre para ocidente, antevendo a forma esférica da Terra. Apresentou o seu projecto ao Rei de Portugal, D. João II, que, não dando crédito às ideias de Colombo, resolveu não o apoiar na sua expedição.

Durante muitos anos, procurou obter financiamento em Portugal, mas o projecto português passava pela descoberta de uma nova rota para o Oriente contornando África.

11 março 2004

MENSAGEM (VI)

A III Parte – “Encoberto” integra: (i) Os Símbolos (“D. Sebastião”, “O Quinto Império”, “O Desejado”, “As Ilhas Afortunadas” e “O Encoberto”; (ii) “Os Avisos” (“O Bandarra”, “António Vieira” e “Terceiro”); (iii) “Os Tempos” (“Noite”, “Tormenta”, “Calma”, “Antemanhã” e “Nevoeiro”).

Começa por mostrar-se a convicção no regresso do “Desejado” – o mito central do sebastianismo (“É Esse que regressarei”), não correspondendo porém, necessariamente, a um ente individual, devendo, em alternativa, consubstanciar-se no conjunto do povo português, agindo sob a vontade de Deus.

O Encoberto surge como uma alusão à misteriosa Ordem dos Rosa-Cruz, em cujos princípios se deverá basear o Quinto Império (“Grécia, Roma, Cristandade, / Europa ... os quatro se vão”):

“Quando virás, ó Encoberto,
Sonho das eras português,
Tornar-me mais que o sopro incerto
De um grande anseio que Deus fez?”

Também o Padre António Vieira foi um dos profetas do Quinto Império, manifestando na “História do Futuro” o seu místico sebastianismo. No decurso das suas missões no Brasil, escreveu um tratado designado “Esperanças de Portugal, Quinto Império do Mundo”.

Em “Os Tempos”, os irmãos “Poder” e “Renome” representam, respectivamente, o Império português e a fama que universalizou Portugal.

E, depois da “Tormenta”, vem a “Calma”. O “Antemanhã” representa aquilo por que é necessário passar antes do despertar.

O “Nevoeiro” antecede a chegada da luz (segundo o mito, D. Sebastião voltaria numa manhã de nevoeiro); na confusão do nevoeiro:

“Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem…
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro.
É a Hora! ”

“Valete, Fratres”.

10 março 2004

MENSAGEM (V)

Vasco da Gama realizou a extraordinária façanha, o grande objectivo dos Descobrimentos: a conquista da Índia por via marítima (“Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra / Suspendem de repente o ódio da sua guerra / E pasmam”).

Este empreendimento teria naturalmente custos significativos, causando grandes sofrimentos, com muitas vidas perdidas:

“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!”;

mas valeu a pena?:

“Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem de passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu”.

O desastre de Alcácer Quibir, o mistério que envolve o desaparecimento de D. Sebastião deverá ser o impulso para o renascimento de Portugal:

“Não sei a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Império”.

Seguiu-se a perda da independência (“Senhor, a noite veio e a alma é vil”), mas é preciso acreditar que é possível renascer:

“Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda”.

09 março 2004

MENSAGEM (IV)

A II Parte – “Mar Português” inclui: “O Infante”; “Horizonte”; “Padrão”; “O Monstrengo”; “Epitáfio de Bartolomeu Dias”; “Os Colombos”; “Ocidente”; “Fernão de Magalhães”; “Ascensão de Vasco da Gama”; “Mar Português”; “A Última Nau” e “Prece”.

A posse do mar permite a ligação do mundo (relembrando o Infante D. Henrique):

“Deus quere, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse”,

mas a missão de Portugal não está ainda concluída:

“Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!”;

não basta o “mar com fim”:

“E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português”,

é necessário o “mar sem fim”, através do qual se alcançará um ponto divino:

“E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na terra calma
O porto sempre por achar”.

Tal como o Adamastor em “Os Lusíadas”, o “Monstrengo” representa o temor de vencer sentido pelos marinheiros, mas, ao mesmo tempo, os obstáculos a vencer:

“E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»”

Colombo, que tentara durante anos o apoio do Rei de Portugal, acabaria por descobrir o Novo Mundo sob a égide dos reis católicos de Espanha; significa aqui as oportunidades perdidas (“Outros haverão de ter / O que houvermos de perder”), mas também que a missão de Portugal vai mais além da dos “Colombos” (“Mas o que a eles não toca / É a Magia que evoca / O longe e faz dele história”).

Ocidente”, porque Portugal, sendo a "cabeça da Europa", tem de cumprir a missão do Ocidente.

08 março 2004

MENSAGEM (III)

“As Quinas” começam com “O Eloquente” D. Duarte, prosseguindo com os Infantes D. Fernando, o “santo cavaleiro”:

“Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça
A sua santa guerra
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma”,

D. Pedro e D. João; finaliza com a “personagem-símbolo”, o (“loucamente”) ambicioso D. Sebastião:

“Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a sorte a não dá
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?”.

A “loucura pela grandeza” de D. Sebastião alia-se de seguida ao misticismo da espada de Nuno Álvares Pereira, o líder preparado para a batalha:

“Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida
Que o Rei Artur te deu”.

A I Parte conclui-se com: o Infante D. Henrique, o senhor do mar, com “O globo mundo em sua mão”; D. João II, uma das figuras de maior influência na História da humanidade, por via do decisivo impulso dos Descobrimentos:

“Braços cruzados, fita além do mar.
Parece em promontório uma alta serra.
O limite da terra a dominar
O mar que possa haver além da terra”;

e, por fim, o vice-rei da Índia D. Afonso de Albuquerque.

07 março 2004

MENSAGEM (II)

A I Parte – “Brasão” compreende: (i) “Os Campos” (“O dos Castelos” e “O das Quinas”); (ii) “Os Castelos” (“Ulisses”, “Viriato”, “O Conde D. Henrique”, “D. Tareja”, “D. Afonso Henriques”; “D. Dinis” e “D. João I e D. Filipa”); (iii) “As Quinas” (“D. Duarte, rei de Portugal”, “D. Fernando, infante de Portugal”, “D. Pedro, regente de Portugal”, “D. João, infante de Portugal” e “D. Sebastião, rei de Portugal”); (iv) “A Coroa”; (v) “O Timbre”.

Falando da Europa ("A Europa jaz, posta nos cotovelos"), o autor começa por sugerir a missão de Portugal ("De Oriente a Ocidente jaz, fitando"; "Fita, com olhar ‘sfingico e fatal, / O Ocidente, futuro do passado"), tendo como um dos aspectos fundamentais a ligação do Oriente ao Ocidente, não apenas do ponto de vista geográfico, mas também a nível dos valores espirituais.

A glória tem um preço ("Compra-se a glória com desgraça"); só pode ser alcançada quando o ter não for colocado à frente do ser:

“Baste a quem baste o que lhe basta
O bastante de lhe bastar!
A vida é breve, a alma é vasta:
Ter é tardar”.

N’“Os Castelos”, surgem os nobres brasões como arquétipos: o guerreiro e lutador Ulisses (fundador da cidade de Lisboa – "Este que aqui aportou"); Viriato, o símbolo do heroísmo e do espírito da independência lusitana:

“Nação porque reencarnaste
Povo porque ressuscitou
Ou tu, ou o de que eras a haste
Assim se Portugal formou”;

o Conde D. Henrique:

“A espada em tuas mãos achada
Teu olhar desce.
Que farei eu com esta espada?
Ergueste-a, e fez-se”;

a “mãe-pátria” D. Tareja ("Ó mãe de reis e avó de impérios, / Vela por nós!"); o “pai. D. Afonso Henriques” ("Dá-nos o exemplo inteiro / E a tua inteira força!"); "O plantador de naus" D. Dinis; D. João I ("Mestre, sem o saber, do Templo / Que Portugal foi feito ser") e D. Filipa, a mãe da “Ínclita geração”:

“Que enigma havia em teu seio
Que só génios concebia?
Volve a nós teu rosto sério,
Princesa do Santo Gral,
Humano ventre do Império,
Madrinha de Portugal”.

06 março 2004

MENSAGEM (I)

Mensagem.jpgA “Mensagem” (livro de poemas, formando realmente um só poema) tem três grandes “andamentos”:

- na primeira parte, “Brasão”, o autor apresenta o Portugal profundo, o Portugal “rosto da Europa”, destacando os “construtores da pátria”, assim como algumas características indispensáveis à realização dos Descobrimentos;

- a segunda parte, “Mar Português”, dá-nos uma "fotografia", ao mesmo tempo épica e dramática, do que foi a grandiosa, mas dolorosa empreitada dos Descobrimentos (uma missão cumprida como missão divina, mas com um preço significativo, que leva à interrogação “Valeu a pena?”);

- na terceira e última parte, “O Encoberto”, defende-se a possibilidade da regeneração nacional pelo mito e pelos seus símbolos, mesmo se, em termos políticos, económicos, sociais e culturais, tudo pudesse parecer perdido.

Para o poeta, o mito sebastianista deve ser aproveitado, de forma a estabelecer a atmosfera espiritual necessária à realização do Quinto Império (“…parte, antes, com a civilização em que vivemos, do Império espiritual da Grécia, origem do que espiritualmente somos. E, sendo esse o Primeiro Império, o Segundo é o de Roma, o Terceiro, o da Cristandade, e o Quarto o da Europa… isto é, da Europa laica de depois da Renascença”) – um Império não no sentido do guerreiro, territorial ou material, mas no sentido de um Império do Espírito e da Cultura.

A contínua actualidade da “Mensagem” faz pensar e renovar espiritualmente a “nação” portuguesa, constituindo um incitamento ao reforço do seu papel no mundo.

05 março 2004

FERNANDO PESSOA – CARTA A ADOLFO CASAIS MONTEIRO (V)

“Como escrevo em nome desses três?... Caeiro, por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular o que iria escrever. Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstracta, que subitamente se concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê. (O meu semi-heterónimo Bernardo Soares, que aliás em muitas cousas se parece com Álvaro de Campos, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um pouco suspensas as qualidades de raciocínio e de inibição; aquela prosa é um constante devaneio. É um semi-heterónimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afectividade. A prosa, salvo o que o raciocínio dá de ténue à minha, é igual a esta, e o português perfeitamente igual; ao passo que Caeiro escrevia mal o português, Campos razoavelmente mas com lapsos como dizer «eu próprio» em vez de «eu mesmo», etc., Reis melhor do que eu, mas com um purismo que considero exagerado. O difícil para mim é escrever a prosa de Reis - ainda inédita - ou de Campos. A simulação é mais fácil, até porque é mais espontânea, em verso.)

Nesta altura estará o Casais Monteiro pensando que má sorte o fez cair, por leitura, em meio de um manicómio. Em todo o caso, o pior de tudo isto é a incoerência com que o tenho escrito. Repito, porém: escrevo como se estivesse falando consigo, para que possa escrever imediatamente. Não sendo assim, passariam meses sem eu conseguir escrever.

Falta responder à sua pergunta quanto ao ocultismo (escreveu o poeta). Pergunta-me se creio no ocultismo. Feita assim, a pergunta não é bem clara; compreendo porém a intenção e a ela respondo. Creio na existência de mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos, em experiências de diversos graus de espiritualidade, subtilizando-se até se chegar a um Ente Supremo, que presumivelmente criou este mundo. Pode ser que haja outros Entes, igualmente Supremos, que hajam criado outros universos, e que esses universos coexistam com o nosso, interpenetradamente ou não. Por estas razões, e ainda outras, a Ordem Externa do Ocultismo, ou seja, a Maçonaria, evita (excepto a Maçonaria anglo-saxónica) a expressão «Deus», dadas as suas implicações teológicas e populares, e prefere dizer «Grande Arquitecto do Universo», expressão que deixa em branco o problema de se Ele é Criador, ou simples Governador do mundo. Dadas estas escalas de seres, não creio na comunicação directa com Deus, mas, segundo a nossa afinação espiritual, poderemos ir comunicando com seres cada vez mais altos. Há três caminhos para o oculto: o caminho mágico (incluindo práticas como as do espiritismo, intelectualmente ao nível da bruxaria, que é magia também), caminho esse extremamente perigoso, em todos os sentidos; o caminho místico, que não tem propriamente perigos, mas é incerto e lento; e o que se chama o caminho alquímico, o mais difícil e o mais perfeito de todos, porque envolve uma transmutação da própria personalidade que a prepara, sem grandes riscos, antes com defesas que os outros caminhos não têm. Quanto à «iniciação» ou não, posso dizer-lhe só isto, que não sei se responde à sua pergunta: não pertenço a Ordem Iniciática nenhuma. A citação, epígrafe ao meu poema Eros e Psique, de um trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, indica simplesmente - o que é facto - que me foi permitido folhear Rituais dos três primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência desde cerca de 1888. Se não estivesse em dormência, eu não citaria o trecho do Ritual, pois se não devem citar (indicando a origem) trechos de Rituais que estão em trabalho.

Creio assim, meu querido camarada, ter respondido, ainda com certas incoerências, às suas perguntas. Se há outras que deseja saber, não hesite em fazê-las. Responderei conforme puder e o melhor que puder. O que poderá suceder, e isso me desculpará desde já, é não responder tão depressa.

Abraça-o o camarada que muito o estima admira.

Fernando Pessoa

P. S. (!!!)

14-1-1935”

04 março 2004

FERNANDO PESSOA – CARTA A ADOLFO CASAIS MONTEIRO (IV)

“Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir - instintiva e subconscientemente - uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque nessa altura já o via. E, de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num jacto, e à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro de Campos - a Ode com esse nome e o homem com o nome que tem.

Criei, então, uma coterie inexistente. Fixei aquilo tudo em moldes de realidade. Graduei as influências, conheci as amizades, ouvi, dentro de mim, as discussões e as divergências de critérios, e em tudo isto me parece que fui eu, criador de tudo, o menos que ali houve.

Parece que tudo se passou independentemente de mim. E parece que assim ainda se passa. Se algum dia puder publicar a discussão estética entre Ricardo Reis e Álvaro de Campos, verá como eles são diferentes, e como eu não sou nada na matéria.

Quando foi da publicação de Orpheu, foi preciso, à última hora, arranjar qualquer cousa para completar o número de páginas. Sugeri então ao Sá-Carneiro que eu fizesse um poema «antigo» do Álvaro de Campos - um poema de como o Álvaro de Campos seria antes de ter conhecido Caeiro e ter caído sob a sua influência. E assim fiz o Opiário, em que tentei dar todas as tendências latentes do Álvaro de Campos, conforme haviam de ser depois reveladas, mas sem haver ainda qualquer traço de contacto com o seu mestre Caeiro. Foi dos poemas que tenho escrito, o que me deu mais que fazer, pelo duplo poder de despersonalização que tive de desenvolver. Mas, enfim, creio que não saiu mal, e que dá o Álvaro em botão...

Creio que lhe expliquei a origem dos meus heterónimos. Se há porém qualquer ponto em que precisa de um esclarecimento mais lúcido - estou escrevendo depressa, e quando escrevo depressa não sou muito lúcido -, diga, que de bom grado lho darei. E, é verdade, um complemento verdadeiro e histérico: ao escrever certos passos das Notas para recordação do meu Mestre Caeiro, do Álvaro de Campos, tenho chorado lágrimas verdadeiras. É para que saiba com quem está lidando, meu caro Casais Monteiro!

Mais uns apontamentos nesta matéria... Eu vejo diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Construí-lhes as idades e as vidas. Ricardo Reis nasceu em 1887 (não me lembro do dia e mês, mas tenho-os algures), no Porto, é médico e está presentemente no Brasil. Alberto Caeiro nasceu em 1889 e morreu em 1915; nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão nem educação quase alguma. Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890 (às 1,30 da tarde, diz-me o Ferreira Gomes; e é verdade, pois, feito o horóscopo para essa hora, está certo). Este, como sabe, é engenheiro naval (por Glasgow), mas agora está aqui em Lisboa em inactividade. Caeiro era de estatura média, e, embora realmente frágil (morreu tuberculoso), não parecia tão frágil como era. Ricardo Reis é um pouco, mas muito pouco, mais baixo, mais forte, mas seco. Álvaro de Campos é alto (1,75 m de altura, mais 2 cm do que eu), magro e um pouco tendente a curvar-se. Cara rapada todos - o Caeiro louro sem cor, olhos azuis; Reis de um vago moreno mate; Campos entre branco e moreno, tipo vagamente de judeu português, cabelo, porém, liso e normalmente apartado ao lado, monóculo. Caeiro, como disse, não teve mais educação que quase nenhuma - só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó. Ricardo Reis, educado num colégio de jesuítas, é, como disse, médico; vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico. É um latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria. Álvaro de Campos teve uma educação vulgar de liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Ensinou-lhe latim um tio beirão que era padre.”

FERNANDO PESSOA – CARTA A ADOLFO CASAIS MONTEIRO (III)

“Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (Não sei, bem entendido, se realmente não existiram, ou se sou eu que não existo. Nestas cousas, como em todas, não devemos ser dogmáticos.) Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, carácter e história, várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como as cousas daquilo a que chamamos, porventura abusivamente, a vida real. Esta tendência, que me vem desde que me lembro de ser um eu, tem-me acompanhado sempre, mudando um pouco o tipo de música com que me encanta, mas não alterando nunca a sua maneira de encantar.

Lembro, assim, o que me parece ter sido o meu primeiro heterónimo, ou, antes, o meu primeiro conhecido inexistente - um certo Chevalier de Pas dos meus seis anos, por quem escrevia cartas dele a mim mesmo, e cuja figura, não inteiramente vaga, ainda conquista aquela parte da minha afeição que confina com a saudade. Lembro-me, com menos nitidez, de uma outra figura, cujo nome já me não ocorre mas que o tinha estrangeiro também, que era, não sei em quê, um rival do Chevalier de Pas... Cousas que acontecem a todas as crianças? Sem dúvida - ou talvez. Mas a tal ponto as vivi que as vivo ainda, pois que as relembro de tal modo que é mister um esforço para me fazer saber que não foram realidades.

Esta tendência para criar em torno de mim um outro mundo, igual a este mas com outra gente, nunca me saiu da imaginação. Teve várias fases, entre as quais esta, sucedida já em maior idade. Ocorria-me um dito de espírito, absolutamente alheio, por um motivo ou outro, a quem eu sou, ou a quem suponho que sou. Dizia-o, imediatamente, espontaneamente, como sendo de certo amigo meu, cujo nome inventava, cuja história acrescentava, e cuja figura - cara, estatura, traje e gesto - imediatamente eu via diante de mim. E assim arranjei, e propaguei, vários amigos e conhecidos que nunca existiram, mas que ainda hoje, a perto de trinta anos de distância, oiço, sinto, vejo. Repito: oiço, sinto, vejo... E tenho saudades deles.

(Em eu começando a falar - e escrever à máquina é para mim falar -, custa-me a encontrar o travão. Basta de maçada para si, Casais Monteiro! Vou entrar na génese dos meus heterónimos literários, que é, afinal, o que V. quer saber. Em todo o caso, o que vai dito acima dá-lhe a história da mãe que os deu à luz.)

“Aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à ideia escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas cousas em verso irregular (não no estilo de Álvaro de Campos, mas num estilo de meia regularidade), e abandonei o caso. Esboçara-se-me, contudo, numa penumbra mal urdida, um vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo. (Tinha nascido, sem que eu soubesse, o Ricardo Reis.)

Ano e meio, ou dois anos depois, lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá-Carneiro - de inventar um poeta bucólico, de espécie complicada, e apresentar-lho, já me não lembro como, em qualquer espécie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegui. Num dia em que finalmente desistira - foi em 8 de Março de 1914 - acerquei-me de uma cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com o título, O Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre. Foi essa a sensação imediata que tive. E tanto assim que, escritos que foram esses trinta e tantos poemas, imediatamente peguei noutro papel e escrevi, a fio, também, os seis poemas que constituem a Chuva Oblíqua, de Fernando Pessoa. Imediatamente e totalmente... Foi o regresso de Fernando Pessoa-Alberto Caeiro a Fernando Pessoa ele só. Ou, melhor, foi a reacção de Fernando Pessoa contra a sua inexistência como Alberto Caeiro.”

03 março 2004

FERNANDO PESSOA – CARTA A ADOLFO CASAIS MONTEIRO (II)

“Respondo agora directamente às suas três perguntas: (1) plano futuro da publicação das minhas obras, (2) génese dos meus heterónimos, e (3) ocultismo.

Feita, nas condições que lhe indiquei, a publicação da «Mensagem», que é uma manifestação unilateral, tenciono prosseguir da seguinte maneira. Estou agora completando uma versão inteiramente remodelada do Banqueiro Anarquista; essa deve estar pronta em breve e conto, desde que esteja pronta, publicá-la imediatamente. Se assim fizer, traduzo imediatamente esse escrito para inglês, e vou ver se o posso publicar em Inglaterra. Tal qual deve ficar, tem probabilidades europeias. (Não tome esta frase no sentido de Prémio Nobel imanente.) Depois - e agora respondo propriamente à sua pergunta, que se reporta a poesia - tenciono, durante o verão, reunir o tal grande volume dos poemas pequenos do Fernando Pessoa ele mesmo, e ver se o consigo publicar em fins do ano em que estamos. Será esse o volume que o Casais Monteiro espera, e é esse que eu mesmo desejo que se faça. Esse, então, será as facetas todas, excepto a nacionalista, que «Mensagem» já manifestou.

“Referi-me, como viu, ao Fernando Pessoa só. Não penso nada do Caeiro, do Ricardo Reis ou do Álvaro de Campos. Nada disso poderei fazer, no sentido de publicar, excepto quando (ver mais acima) me for dado o Prémio Nobel. E contudo - penso-o com tristeza - pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria, pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida. Pensar, meu querido Casais Monteiro, que todos estes têm que ser, na prática da publicação, preteridos pelo Fernando Pessoa, impuro e simples!

Creio que respondo à sua primeira pergunta.

Se fui omisso, diga em quê. Se puder responder, responderei. Mais planos não tenho, por enquanto. E, sabendo eu o que são e em que dão os meus planos, é caso para dizer, Graças a Deus!

Passo agora a responder à sua pergunta sobre a génese dos meus heterónimos. Vou ver se consigo responder-lhe completamente.

Começo pela parte psiquiátrica. A origem dos meus heterónimos é o fundo traço de histeria que existe em mim. Não sei se sou simplesmente histérico, se sou, mais propriamente, um histero-neurasténico. Tendo para esta segunda hipótese, porque em mim fenómenos de abulia que a histeria, propriamente dita, não enquadra no registo dos seus sintomas. Seja como for, a origem mental dos meus heterónimos está na minha tendência orgânica e constante para a despersonalização e para a simulação. Estes fenómenos - felizmente para mim e para os outros - mentalizaram-se em mim; quero dizer, não se manifestam na minha vida prática, exterior e de contacto com outros; fazem explosão para dentro e vivo-os eu a sós comigo. Se eu fosse mulher - na mulher os fenómenos histéricos rompem em ataques e cousas parecidas - cada poema de Álvaro de Campos (o mais histericamente histérico em mim) seria um alarme para a vizinhança. Mas sou homem - e nos homens a histeria assume principalmente aspectos mentais; assim tudo acaba em silêncio e poesia...

Isto explica, tant bien que mal, a origem orgânica do meu heteronimismo. Vou agora fazer-lhe a história directa dos meus heterónimos. Começo por aqueles que morreram, e de alguns dos quais já me não lembro - os que jazem perdidos no passado remoto da minha infância quase esquecida.”

FERNANDO PESSOA – CARTA A ADOLFO CASAIS MONTEIRO (I)

“Carta a Adolfo Casais Monteiro
Caixa Postal 147
Lisboa, 13 de Janeiro de 1935

Meu prezado Camarada:

Muito agradeço a sua carta, a que vou responder imediata e integralmente. Antes de, propriamente, começar, quero pedir-lhe desculpa de lhe escrever neste papel de cópia.

Acabou-se-me o decente, é domingo, e não posso arranjar outro. Mas mais vale, creio, o mau papel que o adiamento.

Em primeiro lugar, quero dizer-lhe que nunca eu veria «outras razões» em qualquer cousa que escrevesse, discordando a meu respeito. Sou um dos poucos poetas portugueses que não decretou a sua própria infalibilidade, nem toma qualquer crítica, que se lhe faça, como um acto de lesa-divindade. Além disso, quaisquer que sejam os meus defeitos mentais, é nula em mim a tendência para a mania da perseguição. À parte isso, conheço já suficientemente a sua independência mental, que, se me é permitido dizê-lo, muito aprovo e louvo. Nunca me propus ser Mestre ou Chefe - Mestre, porque não sei ensinar, nem sei se teria que ensinar; Chefe, porque nem sei estrelar ovos. Não se preocupe, pois, em qualquer ocasião, com o que tenha que dizer a meu respeito. Não procuro caves nos andares nobres.

Concordo absolutamente consigo em que não foi feliz a estreia, que de mim mesmo fiz com um livro da natureza da «Mensagem». Sou, de facto, um nacionalista místico, um sebastianista racional. Mas sou, à parte isso, e até em contradição com isso, muitas outras cousas. E essas cousas, pela mesma natureza do livro, a «Mensagem» não as inclui.

Comecei por esse livro as minhas publicações pela simples razão de que foi o primeiro livro que consegui, não sei porquê, ter organizado e pronto. Como estava pronto, incitaram-me a que o publicasse: acedi. Nem o fiz, devo dizer, com os olhos postos no prémio possível do Secretariado, embora nisso não houvesse pecado intelectual de maior. O meu livro estava pronto em Setembro, e eu julgava, até, que não poderia concorrer ao prémio, pois ignorava que o prazo para entrega dos livros, que primitivamente fora até fim de Julho, fora alargado até ao fim de Outubro. Como, porém, em fim de Outubro já havia exemplares prontos da «Mensagem», fiz entrega dos que o Secretariado exigia. O livro estava exactamente nas condições (nacionalismo) de concorrer. Concorri.

Quando às vezes pensava na ordem de uma futura publicação de obras minhas, nunca um livro do género de «Mensagem» figurava em número um. Hesitava entre se deveria começar por um livro de versos grande - um livro de umas 350 páginas -, englobando as várias subpersonalidades de Fernando Pessoa ele mesmo, ou se deveria abrir com uma novela policiária, que ainda não consegui completar.

Concordo consigo, disse, em que não foi feliz a estreia, que de mim mesmo fiz, com a publicação de «Mensagem». Mas concordo com os factos que foi a melhor estreia que eu poderia fazer. Precisamente porque essa faceta - em certo modo secundária - da minha personalidade não tinha nunca sido suficientemente manifestada nas minhas colaborações em revistas (excepto no caso de Mar Português, parte deste mesmo livro) - precisamente por isso convinha que ela aparecesse, e que aparecesse agora. Coincidiu, sem que eu o planeasse ou o premeditasse (sou incapaz de premeditação prática), com um dos momentos críticos (no sentido original da palavra) da remodelação do subconsciente nacional. O que fiz por acaso e se completou por conversa, fora exactamente talhado, com Esquadria e Compasso, pelo Grande Arquitecto.

(Interrompo. Não estou doido nem bêbado. Estou, porém, escrevendo directamente, tão depressa quanto a máquina mo permite, e vou-me servindo das expressões que me ocorrem, sem olhar a que literatura haja nelas. Suponha - e fará bem em supor, porque é verdade - que estou simplesmente falando consigo.)”

02 março 2004

BERNARDO SOARES (II)

“Invejo - mas não sei se invejo - aqueles de quem se pode escrever uma biografia, ou que podem escrever a própria. Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem factos, a minha história sem vida. São as minhas Confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho que dizer.

Que há-de alguém confessar que valha ou que sirva? O que nos sucedeu a toda a gente ou só a nós; num caso não é novidade, e no outro não é de compreender. Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto. Faço férias das sensações.

Compreendo bem as bordadoras por mágoa e as que fazem meia porque há vida. Minha tia velha fazia paciências durante o infinito do serão. Estas confissões de sentir são paciências minhas. Não as interpreto, como quem usasse cartas para saber o destino. Não as ausculto, porque nas paciências as cartas não têm propriamente valia. Desenrolo-me como uma meada multicolor, ou faço comigo figuras de cordel, como as que se tecem nas mãos espetadas e se passam de umas crianças para as outras. Cuido só de que o polegar não falhe o laço que lhe compete. Depois viro a mão e a imagem fica diferente. E recomeço.

Viver é fazer meia com uma intenção dos outros. Mas, ao fazê-la, o pensamento é livre, e todos os príncipes encantados podem passear nos seus parques entre mergulho e mergulho da agulha de marfim com bico reverso. Croché das coisas...Intervalo...Nada.

De resto, com que posso contar comigo? Uma acuidade horrível das sensações, e a compreensão profunda de estar sentindo... Uma inteligência aguda para me destruir, e um poder de sonho sôfrego de me entreter... Uma vontade morta e uma reflexão que a embala, como a um filho vivo... Sim, croché...”

01 março 2004

BERNARDO SOARES

De entre muitos outros, destaca-se o semi-heterónimo Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros, que sempre viveu sozinho em Lisboa.

Era, em muitas coisas, parecido com Álvaro de Campos.

É um semi-heterónimo porque não tinha a personalidade do autor, não sendo contudo diferente, mas uma “simples mutilação dela”, correspondendo a Pessoa “menos o raciocínio e a afectividade”.

Embora surgisse ao poeta “sempre que estava cansado ou sonolento”, com uma prosa de constante devaneio, revela, no “Livro do Desassossego”, uma extrema lucidez na análise da alma humana.

ASSINATURA…

Possivelmente, alguns o saberiam… Eventualmente, outros o “suspeitariam” (?)… A “assinatura” que utilizei nas “entradas” deste “blogue” (L...