30 abril 2004

CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (XII)

"Foi o capitão com alguns de nós um pedaço por este arvoredo até uma ribeira grande e de muita água que, a nosso parecer, era esta mesma que vem ter à praia em que nós tomámos água. Ali ficámos um pedaço bebendo e folgando ao longo dela, entre esse arvoredo, que é tanto e tamanho e tão basto e de, tantas prumagens que lhe não pode homem dar conto. Há entre ele muitas palmas de que colhemos muitos e bons palmitos.

Quando saímos do batel, disse o capitão que seria bom irmos direitos à cruz, que estava encostada a uma árvore, junto com o rio, para se pôr de manhã, que é sexta-feira, e que nos puséssemos todos em joelhos e a beijássemos, para eles verem o acatamento que lhe tínhamos. E assim o fizemos.

E esses dez ou doze, que aí estavam, acenaram-lhes que fizessem assim e foram logo todos beijá-la. Parece-me gente de tal inocência que, se o homem entendesse e eles a nós, que seriam logo cristãos, porque eles não têm nem entendem em nenhuma crença, segundo parece. E, portanto, se os degradados que aqui hão-de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido, segundo a santa tenção de Vossa Alteza, fazerem-se cristãos e crerem na nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque, certo, esta gente é boa e de boa simplicidade e imprimir-se-á ligeiramente neles qualquer cunho que lhes quiserem dar.

E logo lhes Nosso Senhor deu bons corpos e bons rostos, como a bons homens e ele, que nos por aqui trouxe, creio que não foi sem causa. E, portanto, Vossa Alteza, pois tanto deseja acrescentar na santa fé católica, deve entender em sua salvação; e prazerá a Deus que, com pouco trabalho, será assim. Eles não lavram nem criam, nem há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem outra nenhuma alimária, que costumada seja ao viver dos homens; nem comem senão desse inhame que aqui há muito e dessa semente e fruitos que a terra e as árvores de si lançam.

E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios, que o não somos nós tanto com quanto trigo e legumes comemos. Enquanto ali, este dia, andaram, sempre ao som dum tamborim nosso dançaram e bailaram com os nossos, em maneira que são muito mais nossos amigos que nós seus. Se lhes homem acenava se queriam vir às naus, faziam-se logo prestes para isso em tal maneira que, se os homem todos quisera convidar, todos vieram.

Porém não trouxemos esta note às naus senão quatro ou cinco, a saber: o capitão-mor, dous, e Simão de Miranda, um, que trazia já por pajem, e Aires Gomes, outro, assim pajem. Os que o capitão trouxe era um deles um dos seus hóspedes que à primeira, quando aqui chegámos, lhe trouxeram, o qual veio hoje aqui vestido na sua camisa, e com ele um seu irmão os quais foram esta noute muito bem agasalhados assim de vianda como de cama de colchões e lençóis por os mais amansar.

E hoje, que é sexta-feira, primeiro dia de Maio, pela manhã, saímos em terra corri nossa bandeira e fomos desembarcar acima do rio, contra o sul, onde nos pareceu que seria melhor chantar a cruz para ser melhor vista. E ali assinou o capitão onde fizessem a cova para a chantar, e, enquanto a ficaram fazendo, ele com todos nós outros fomos pela cruz, abaixo do rio, onde ela estava."

CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (XI)

"Eu creio, Senhor, que não dei ainda aqui conta a Vossa Alteza da feição de seus arcos e setas. Os arcos são pretos e compridos e as setas compridas e os ferros delas de canas aparadas, segundo Vossa Alteza verá por- alguns, que creio que o capitão a Ela há-de enviar.

À quarta-feira não fomos em terra, porque o capitão andou todo o dia no navio dos mantimentos a despejá-lo e fazer levar às naus isso que cada uma podia levar. Eles acudiram à praia muitos, segundo das naus vimos, que seriam obra de trezentos, segundo Sancho de Tovar, que lá foi, disse.

Diogo Dias e Afonso Ribeiro, o degradado, a que o capitão ontem mandou que, em toda maneira, lá dormissem, volveram-sé já de noute, por eles não quererem que lá dormissem. E trouxeram papagaios verdes e outras aves pretas, quase como pegas, senão quanto tinham o bico branco e os rabos curtos.

E quando se Sancho de Tovar recolheu à nau, queriam-se vir com ele alguns, mas ele não quis senão dous mancebos dispostos e homens de prol. Mandou-os essa noute mui bem pensar e curar. E comeram toda vianda que lhes deram. E mandou-lhes fazer cama de lençóis, segundo ele disse. E dormiram e folgaram aquela noute. E assim não foi mais esse dia que para escrever seja.

À quinta-feira, derradeiro d'Abril, comemos logo quase pela manhã e fomos em terra por, mais lenha e água. E, em querendo o capitão sair, desta nau, chegou Sancho de Tovar com seus dous hospedes. E, por ele não ter ainda comido, puseram-lhe toalhas e veio-lhe, vianda e comeu. Assentaram cada um dos hóspedes em sua cadeira e de tudo o que lhes deram comeram mui bem, especialmente lacão cozido, frio, e arroz. Não lhes deram, vinho, por Sancho de Tovar dizer que o não bebiam bem.

Acabado o comer, metemo-nos todos no batel e eles connosco. Deu um grumete a um deles uma armadura grande de porco montês, bem revolta e, tanto que a tomou, meteu-a logo no beiço; e, porque se lhe não queria ter, deram-lhe uma pequena de cera vermelha e ele corregeu-lhe detrás seu adereço para se ter, e meteu-a no beiço assim revolta para cima. E vinha tão contente com ela, como se tivera uma grande jóia. E, tanto que saímos em terra foi-se logo com ela, que não apareceu aí mais.

Andariam na praia, quando saímos, oito ou dez deles e daí a pouco começaram de vir; e parece-me que viriam, este dia, à praia quatrocentos ou quatrocentos e cinquenta. Traziam alguns deles arcos e setas e todos os deram por carapuças ou por qualquer cousa que lhes davam. Comiam connosco do que lhes dávamos e bebiam alguns dele vinho e outros o não podiam beber, mas parece-me que se lho avezarem que o beberão de boa vontade.

Andavam todos tão dispostos e tão bem feitos e galantes com suas tinturas, que pareciam bem. Acarretavam dessa lenha quanta podiam, com mui boas vontades, e levavam-na aos batéis. E andavam já mais mansos e seguros entre nós do que nos andávamos entre eles."

29 abril 2004

CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (X)

"Tinham dentro muitos esteios e d'esteio a, esteio uma rede, atada pelo cabos em cada esteio, altas, em que dormiam, e, debaixo, para se aquentarem, faziam seus fogos. E tinha cada casa duas portas pequenas, uma em um cabo e outra no outro. E diziam que, em cada casa, se acolhiam trinta ou quarenta pessoas e que assim os achavam e que lhes davam de comer daquela vianda que eles tinham, a saber: muito inhame e outras sementes, que na terra há, que eles comem.

E, como foi tarde, fizeram-nos logo todos tornar e não quiseram que lá ficasse nenhum. E ainda, segundo eles diziam, queriam-se vir com eles. Resgataram lá por cascavéis e por outras cousinhas de pouco valor, que levavam, papagaios vermelhos muito grandes e formosos e dous verdes, pequeninos e carapuças de penas verdes e um pano de penas de muitas cores, maneira de tecido assás formoso, segundo Vossa Alteza todas estas cousas verá, porque o capitão mandar, segundo ele disse. E, com isto, vieram. E nós tornámo-nos às naus.

À terça-feira, depois de comer, foi-nos em terra dar guarda de lenha e lavar roupa. Estavam na praia, quando chegámos, obra de sessenta ou setenta, sem arcos e sem nada. Tanto que chegámos, vieram-se logo para nós, sem se esquivarem. E depois acudiram muitos, que seriam bem duzentos, todos sem arcos. E misturaram-se todos tanto connosco, que nos ajudavam deles a acarretar lenha e meter nos batéis e lutavam com os nossos e tomavam muito prazer.

E, enquanto nós fazíamos a lenha, faziam dous carpinteiros uma grande cruz dum pau que se ontem para isso cortou. Muitos deles vinham ali estar com. os carpinteiros e creio que o faziam mais por verem a ferramenta de ferro, com que a faziam, que por verem a cruz, porque eles não têm cousa que de ferro seja e cortam sua madeira e paus com cunhas, metidas em um pau, entre duas talas mui bem apertadas e por tal maneira, que andam fortes segundo os homens, que ontem a suas casas foram diziam, porque lhas viram lá.

Era já a conversação deles connosco tanta, que quase nos torvavam ao que havíamos de fazer. E o capitão mandou a dous degredados e a Diogo Dias que fossem lá à aldeia e a outras, se houvessem delas novas, e que, em toda maneira, não se viessem a dormir às naus, ainda que os eles mandassem. E assim se foram.

Enquanto andávamos nesta mata, a cortar lenha, atravessavam alguns papagaios por essas árvores, deles verdes e outros pardos, grandes e pequenos, de maneira que me parece que haverá nesta terra muitos, mas eu não veria mais que até nove ou dez. Outras aves, então, não vimos; somente algumas pombas seixas e pareceram-me maiores, em boa quantidade, que as de Portugal. Alguns diziam que viram rolas, mas eu não as vi, mas, segundo os arvoredos são mui muitos, e grandes e d'infindas maneiras, não duvido que por esse sertão haja muitas aves. E acerca da noute nos volvemos para as naus com nossa lenha."

CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (IX)

"E isto me faz presumir que não têm casas nem moradas em que se acolham. E o ar, a que se criam, os faz tais. Nem nós ainda até agora não vimos nenhumas casas nem maneira delas. Mandou o capitão àquele degradado, Afonso Ribeiro, que se fosse outra vez com eles, o qual se foi e andou lá um bom pedaço.

E à tarde tornou-se, que o fizeram eles vir e não o quiseram lá consentir. E deram-lhe arcos e setas e não lho tomaram nenhuma cousa do seu. Antes disse ele que lhe tomara um deles umas continhas amarelas que ele levava e fugia com elas e ele se queixou e os outros foram logo após ele e lhas tomaram e tornaram-lhas a dar. E então mandaram-no vir.

Disse ele que não vira lá entre eles senão umas choupaninhas de rama verde e de fetos muito grandes, como d'Entre Doiro e Minho. E assim nos tornámos às naus, já quase noite, a dormir.

À segunda-feira, depois de comer, saímos todos em terra a tomar água. Ali vieram então muitos, mas não tantos como as outras vezes. E traziam já muito poucos arcos e estiveram assim um pouco afastados de nós. E despois, poucos e poucos, misturavam-se connosco e abraçavam-nos e folgavam e alguns deles se esquivavam logo.

Ali davam alguns arcos por folhas de papel e por alguma carapucinha velha e por qualquer cousa. E em tal maneira se passou a cousa, que bem vinte ou trinta pessoas das nossas se foram com eles, onde muitos deles estavam com moças e mulheres e trouxeram de lá muitos arcos e barretes de penas d'aves, deles verdes e deles amarelos, de que creio que o capitão há-de mandar amostra a Vossa Alteza.

E, segundo diziam esses que lá foram, folgavam com eles. Neste dia os vimos de mais perto e mais à nossa vontade, por andarmos todos quase misturados, e ali deles andavam daquelas tinturas quartejados, outros de metades, outros de tanta feição, como em panos d'armar, e todos com os beiços furados e muitos com os ossos neles e deles sem ossos. Traziam alguns deles uns ouriços verdes d'árvores que, na cor, queriam parecer de castanheiros, senão quanto eram mais e mais pequenos.

E aqueles eram cheios, d'uns grãos vermelhos pequenos, que, esmagando-os entre os dedos, faziam tintura multo vermelha de que eles andavam tintos. E quanto mais se molhavam tanto mais vermelhos ficavam. Todos andam rapados até cima das orelhas e assim as sobrancelhas e pestanas. Trazem todos as testas, de fonte a fonte, tintas da tintura preta que parece uma fita preta, ancha de dous dedos.

E o capitão mandou àquele degradado Afonso Ribeiro e a outros dous degradados, que fossem andar lá entre eles, e assim a Diogo Dias, por ser homem ledo, com que eles folgavam. E aos degradados, mandou que ficassem lá esta noute. Foram-se lá todos e andaram entre eles e, segundo eles diziam, foram, bem uma légua e meia a uma povoação de casas, em que haveria nove ou dez casas, as quais, diziam que eram tão compridas cada uma como esta nau capitania. E eram de madeira, e das ilhargas, de tábuas, e cobertas de palha; de razoada altura e todas em uma só casa, sem nenhum repartimento."

28 abril 2004

CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (VIII)

"E despois moveu o capitão para cima, ao longo do rio, que anda sempre a carão da praia, e ali esperou um velho que trazia na mão uma pá d'almadia. Falou, estando o capitão com ele perante todos nós, sem o nunca ninguém entender nem ele a nós, quanto a cousas que lhe homem perguntava d'ouro, que nós desejávamos saber se o havia na terra. Trazia este velho o beiço tão furado, que lhe caberia pelo furado um grande dedo polegar.

E trazia metido no furado uma pedra verde, ruim, que çarrava por fora aquele buraco. E o capitão lha fez tirar e ele não sei que diabo falava e ia com ela para a boca do capitão para lha meter. Estivemos sobre isso um pouco rindo então enfadou-se o capitão e deixou-o. E um dos nossos deu-lhe pela pedra um sombreiro velho, não, por ela valer alguma cousa, mas por mostra.

E despois, a houve o capitão creio para com as outras cousas a mandar a Vossa Alteza. Andámos por aí vendo a ribeira, a qual é de muita água e muito boa. Ao longo dela há muitas palmas, não muito altas, em que há muito bons palmitos. Colhemos e comemos deles muitos. Então tornou-se o capitão para baixo, para a boca do rio, onde desembarcámos.

E além do rio andavam muitos deles, dançando e folgando uns ante outros, sem se tomarem pelas mãos, e faziam-no bem. Passou-se então além do rio Diogo Dias, almoxarife que foi de Sacavém que é homem gracioso e de prazer, e levou consigo um gaiteiro nosso, com sua gaita, e meteu-se com eles a dançar, tomando-os pelas mãos. E eles folgavam e riam e andavam com ele mui bem, ao som da gaita. Despois de dançarem, fez-lhes ali, andando no chão, muitas voltas ligeiras e salto real, de que se eles espantavam e riam e folgavam muito.

E, conquanto os com aquilo muito segurou e afagou, tomavam logo uma esquiveza como monteses. E foram-se para cima. E então o capitão passou o rio com todos nós outros e fomos pela praia, de longo, indo os batéis assim a carão de terra. E fomos até uma lagoa grande d'água doce, que está junto com a praia, porque toda aquela ribeira do mar é apaulada por cima e sai água por muitos lugares.

E depois de passarmos o rio, foram uns sete ou oito deles andar entre os marinheiros que se recolhiam aos batéis. E levaram dali um tubarão que Bartolomeu Dias matou e levava-lho e lançou-o na praia. Abasta (que até aqui, como quer que se eles em alguma parte amansassem, logo duma mão para a outra se esquivavam, como pardais de cevadoiro, e homem não lhes ousa falar de rijo por se mais não esquivarem.

E tudo se passa como eles querem por os bem amansar. Ao velho, com que o capitão falou, deu uma carapuça vermelha e com toda a fala, que com ele passou, e com a carapuça, que lhe deu, tanto que se espediu, que começou de passar o rio, foi-se logo recatando e não quis mais tornar do rio para aquém.

Os outros dous, que o capitão teve nas naus, a que deu o que já dito é, nunca aqui mais apareceram, de que tiro ser gente bestial e de pouco saber e por isso são assim esquivos. Eles, porém, com tudo, andam muito bem curados e muito limpos e naquilo me parece ainda mais que são como aves ou alimárias monteses que lhes faz o ar melhor pena e melhor cabelo que às mansas, porque os corpos seus são tão limpos e tão gordos e tão formosos, que não pode mais ser."

CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (VII)

"A isto acordaram que não era necessário tomar por força homens, porque geral costume era dos que assim levavam por força para alguma parte dizerem que há aí tudo o que lhes perguntam, e que melhor e muito melhor informação da terra dariam dous homens destes degradados que aqui deixassem do que eles dariam, se os levassem, por ser gente que ninguém entende; nem eles tão cedo aprenderiam a falar para o saberem tão bem dizer que muito melhor o estoutros não digam, quando cá Vossa Alteza mandar.

E que, portanto, não curassem aqui de, por força, tomar ninguém nem fazer escândalo, para os de todo mais amansar e apacificar, senão somente deixar aqui os dous degradados, quando daqui partíssemos. E assim, por melhor parecer a todos, ficou determinado.

Acabado isto, disse o capitão que fôssemos nos batéis em terra e ver-se-ia bem o rio quejando era e também para folgarmos. Fomos todos nos batéis em terra, armados, e a bandeira connosco. Eles andavam ali na praia, à boca do rio, onde nós íamos. E, antes que chegássemos, do ensino que dantes tinham, puseram todos os arcos e acenavam que saíssemos.

E, tanto que os batéis puseram as proas em terra, passaram-se logo todos além do rio, o qual não é mais ancho que um jogo de mancal. E, tanto que desembarcamos, alguns dos nossos passaram logo o rio e foram entre eles. E alguns aguardavam e outros se afastavam, mas era a cousa de maneira que todos andavam misturados. Eles davam desses arcos com suas setas por sombreiros e carapuças de linho e por qualquer cousa que lhes davam.

Passaram além tantos dos nossos e andavam assim misturados com eles, que eles se esquivavam e afastavam-se e iam-se deles para cima, onde outros estavam. E então o capitão fez-se tomar ao colo de dous homens e passou o rio e fez tornar todos. A gente que ali era não seria mais que aquela que soía.

E, tanto que o capitão fez tornar todos, vieram alguns deles a ele, não por o conhecerem por senhor, cá me parece que não entendem nem tomavam disso conhecimento, mas porque a gente nossa passava já para aquém do rio. Ali falavam e traziam muitos arcos e continhas daquelas já ditas e resgatavam por qualquer cousa em tal maneira que trouxeram dali para as naus muitos arcos e setas e contas.

E então tornou-se o capitão aquém do rio e logo acudiram muitos à beira dele. Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho e quartejados assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, pareciam assim bem.

Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres moças, assim nuas que não pareciam mal, entre as quais andava uma com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tinta daquela tintura preta e o resto todo da sua própria cor. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas e também os colos dos pés. E suas vergonhas tão nuas e com tanta inocência descobertas que não havia aí nenhuma vergonha.

Também andava aí outra mulher moça com um menino ou menina no colo, atado com um pano não sei de quê aos peitos, que lhe não apareciam senão as perninhas, mas as pernas da mãe e o resto não traziam nenhum pano."

27 abril 2004

CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (VI)

"Enquanto estivemos à missa e à pregação, seriam na praia outra tanta gente pouco mais ou menos como os d'ontem, com seus arcos e setas, os quais andavam folgando e olhando-nos, e assentaram-se. E, despois d'acabada a missa, assentados nós à pregação, alevantaram-se muitos deles e tangeram corno ou buzina e começaram a saltar e dançar um pedaço.

E alguns deles se metiam em almadias, duas ou três, que aí tinham, as quais não são feitas como as que eu já vi; somente são três traves, atadas juntas. E ali se metiam quatro ou cinco ou esses que queriam, não se afastando quase nada da terra senão quanto podiam tomar pé. Acabada a pregação, moveu o capitão e todos para os batéis, com nossa bandeira alta; e embarcámos e fomos assim todos contra terra para passarmos ao longo por onde eles estavam, indo Bartolomeu Dias em seu esquife, por mandado do capitão, diante, com um pau duma almadia, que lhes o mar levara, para lho dar, e nós todos, obra de tiro de pedra trás ele.

Como eles viram o esquife de Bartolomeu Dias, chegaram-se logo todos à água, metendo-se nela até onde mais podiam. Acenaram-lhes que pusessem os arcos e muitos deles os iam logo pôr em terra, e outros os não punham. Andava aí um que falava muito aos outros que se afastassem, mas não já que m'a mim parecesse que lhe tinham acatamento nem medo.

Este, que os assim andava afastando, trazia seu arco e setas e andava tinto de tintura vermelha pelos peitos e espáduas e pelos quadris, coxas e pernas até baixo; e os vazios com a barriga e estômago eram da sua própria cor. E a tintura era assim, vermelha que a água lha não comia nem desfazia, antes, quando saía da água, era mais vermelho. Saiu um homem do esquife de Bartolomeu Dias. E andava entre eles sem eles entenderem nada nele quanto a para lhe fazerem mal, senão quanto lhe davam cabaços d'água.

E acenavam aos do esquife que saíssem em terra. Com isto se volveu Bartolomeu Dias ao capitão e viemo-nos às naus a comer, tangendo trombetas e gaitas, sem lhes dar mais opressão. E eles tornaram-se a assentar na praia e assim por então ficaram. Neste ilhéu, onde fomos ouvir missa e pregação, espraia muito a água e descobre muita areia e muito cascalho. Foram alguns, em nós aí estando, buscar marisco e não no acharam.

E acharam alguns camarões grossos e curtos, entre os quais vinha um muito grande camarão e muito grosso, que em nenhum tempo o vi tamanho. Também acharam cascas de bergões e d'amêijoas, mas não toparam com nenhuma peça inteira. E, tanto que comemos, vieram logo todos os capitães a esta nau, por mandado do capitão-mor, com os quais se ele apartou e eu na companhia.

E perguntou assim a todos se nos parecia ser bem mandar a nova do achamento desta terra a Vossa Alteza pelo navio dos mantimentos, para a melhor mandar descobrir e saber dela mais do que agora nós podíamos saber, por irmos de nossa viagem.

E, entre muitas falas que no caso se fizeram, foi por todos ou a maior parte dito que seria muito bem. E nisto concluíram. E, tanto que a conclusão foi tomada, perguntou mais se seria bom tomar aqui por força um par destes homens para os mandar a Vossa Alteza e deixar aqui por eles outros dous destes degradados."

CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (V)

"Ali por então não houve mais fala nem entendimento com eles por a barberia deles ser tamanha que se não entendia nem ouvia ninguém. Acenámos-lhes que se fossem e assim o fizeram e passaram-se além do rio. E saíram três ou quatro homens nossos dos batéis e encheram não sei quantos barris d'água, que nós levávamos. E tornámo-nos às naus. E, em nós assim vindo, acenaram-nos que tornássemos e tornámos.

E eles mandaram o degradado e não quiseram que ficasse lá com eles, o qual levava uma bacia pequena e duas ou três carapuças vermelhas para dar lá ao senhor, se o aí houvesse. Não curaram de lhe tomar nada e assim o mandararam com tudo. E então Bartolomeu Dias o fez outra vez tornar, que lhes desse aquilo. E ele tornou e deu aquilo em vista de nós àquele que da primeira o agasalhou; e então veio e trouxemo-lo.

Este que o agasalhou era já de dias e andava todo, por louçainha, cheio de penas, pegada pelo corpo, que parecia assetado como S. Sebastião. Outros traziam carapuças de penas amarelas e outros de vermelhas e outros de verdes.

E uma daquelas moças era toda tinta, de fundo a cima, daquela tintura, a qual, certo, era tão bem feita e tão redonda e sua vergonha, que ela não tinha, tão graciosa, que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhe tais feições, fizera vergonha, por não terem a sua como ela.

Nenhum deles não era fanado, mas todos assim como nós. E com isto nos tornámos e eles foram-se. À tarde saiu o capitão-mor em seu batel com todos nós outros e com os outros capitães das naus em seus batéis a folgar pela baía, a carão da praia, mas ninguém sai em terra por o capitão não querer, sem embargo de ninguém nela estar. Somente sai ele com todos em um ilhéu grande, que na baía está, que de baixa-mar fica mui vazio mas é de todas partes cercado d'água, que não pode ninguém ir a ele sem barco ou a nado.

Ali folgou ele e todos nós outros bem uma hora e meia. E pescaram, aí andando marinheiros com um cinchorro, e mataram pescado miúdo não muito. E, então volvemo-nos às naus já bem noute.

Ao domingo de Pascoela, pela manhã, determinou o capitão d'ir ouvir missa e pregação naquele ilhéu. E mandou a todos os capitães que se corregessem nos batéis e fossem com ele; e assim foi feito. Mandou naquele ilhéu armar um esperável e dentro nele alevantar altar mui bem corregido e ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual disse o padre frei Henrique em voz entoada e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes que ali todos eram, a qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida da por todos com muito prazer e devoção.

Ali era com o capitão a bandeira de Cristo, com que saiu de Belém, a qual esteve sempre alta, à parte do Evangelho. Acabada a missa, desvestiu-se o padre e pôs-se em uma cadeira alta e nós todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa pregação da história Evangelho. E, em fim dela, tratou de nossa vinda e do achamento desta terra, conformando-se com o sinal da cruz, sob cuja obediência vimos, a qual veio muito a propósito e fez muita devoção."

26 abril 2004

CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (IV)

“Ao sábado, pela manhã, mandou o capitão fazer vela e fomos demadar a entrada, a qual era mui larga e alta de seis, sete braças. E entraram todas as naus dentro e ancoraram-se em cinco, seis braças, a qual ancoragem dentro é tão grande e tão segura que podem jazer dento nela mais de 200 navios e naus. E tanto que as naus foram pousadas e ancoradas, vieram os capitães todos a esta nau do capitão-mor.

E da daqui mandou o capitão Nicolau Coelho e Bartolomeu Dias que fossem em terra e levassem aqueles dous homens e os deixassem ir com seu arco e setas, a cada um dos quais mandou dar uma camisa nova e uma carapuça vermelha e um rosairo de contas brancas d'osso, que eles levavam nos braços, e um cascavél e uma campainha.

E mandou com eles para ficar lá um mancebo degradado, criado de João Telo, a que chamam Afonso Ribeiro, para andar lá com eles e saber de seu viver e maneira e a mim mandou que fosse com Nicolau Coelho. Fomos assim de frecha direitos à praia.

Ali acudiram logo obra de 200 homens, todos nus, e com arcos e setas nas mãos. Aqueles que nós levávamos acenaram-lhes que se afastassem e pusessem os arcos e eles os puseram e não se afastavam muito. E, mal tinham posto os arcos, então saíram os que nós levávamos e o mancebo degradado com eles, os quais, assim como saíram, não pararam mais, nem esperava um por outro senão a quem mais correria.

E passaram um rio, que por aí corre, d'água doce, de muita água, que lhes, dava pela braga e outros muitos com eles. E foram assim correndo além do rio entre umas moitas de palmas, onde estavam outros, e ali pararam. E, naquilo, foi o degradado com um homem que logo ao sair do batel, o agasalhou e levou-o até lá. E logo o tornaram a nós. E com ele vieram ou outros que nós levámos, os quais vinham já nus e sem carapuças. E então se começaram de chegar muitos. E entravam pela beira do mar para os batéis até que mais não podiam.

E traziam cabaços d'água e tomavam alguns barris que nós levávamos e enchiam-nos d'água e traziam-nos aos batéis. Não que eles de todo chegassem a bordo do batel, mas, junto com ele, lançavam-nos da mão e nós tomávamo-los. E pediam que lhes dessem alguma cousa. Levava, Nicolau Coelho cascavéis e manilhas e a uns dava um cascavél e a outros uma manilha, de maneira que, com aquela encarna, quase nos queriam dar a mão.

Davam-nos daqueles arcos e setas por sombreiros e carapuças de linho e por qualquer cousa que lhes homem queriam dar. Dali se partiram os outros dois mancebos que não os vimos mais. Andavam ali muitos deles ou quase a maior parte que todos traziam aqueles bicos d'osso nos beiços. E alguns, que andavam sem eles traziam beiços furados e nos buracos traziam uns espelhos de pau que pareciam espelhos de borracha. E alguns deles traziam três daqueles bicos a saber: um na metade e os dous nos cabos.

E andavam aí outros quartejados de cores, isto é: deles a metade da sua própria cor e a metade de tintura negra, maneira d'azulada, e outros quartejados d’escaques. Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis com cabelos muito pretos, compridos, pelas espáduas; e suas vergonhas tão altas e tão çarradinhas e tão limpas que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha."

CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (III)

“Metem-no pela parte de dentro do beiço e o que lhe fica entre o beiço e os dentes é feito como roque de xadrez; e em tal maneira o trazem ali encaixado, que lhes não dá paixão nem lhes estorva a fala, nem comer, nem beber.

Os cabelos seus são corredios e andavam tosquiados de tosquia alta mais que de sobre-pente, de boa grandura e rapados até por cima das orelhas.

E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte para detrás, uma maneira de cabeleira de penas d'ave amarela, que seria de comprimento dum coto, mui basta e mui çarrada que lhe cobria o toutiço e as orelhas, a qual andava pegada nos cabelos, pena e pena, com uma confecção branda como cera e não no era; de maneira que andava a cabeleira mui redonda e mui basta e mui igual, que não fazia mingua mais lavagem para a levantar.

O capitão, quando eles vieram, estava assentado em uma cadeira e uma alcatifa aos pés por estrado, e bem vestido, com um colar d'ouro mui grande ao pescoço. E Sancho de Tovar e Simão de Miranda e Nicolau Coelho e Aires Correa e nós outros, que aqui na nau com ele imos, assentados no chão por essa alcatifa.

Acenderam tochas e entraram e não fizeram nenhuma menção de cortesia nem de falar ao capitão nem a ninguém. Um deles, porém, pôs olho no colar do capitão e começou d'acenar com a mão para a terra e despois para o colar, como que nos dizia que havia em terra ouro. E também viu um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e então para o castiçal, como que havia também prata. Mostraram-lhes um papagaio pardo, que aqui o capitão traz, tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como queos havia aí. Mostraram-lhes um carneiro, não fizeram dele menção. Mostraram-lhes uma galinha, (quase haviam medo dela e não lhe queriam por a mão e despois a tomaram como espantados).

Deram-lhes ali de comer pão e pescado cozido, confeitos, fartéis, mel e figos passados; não quiseram comer daquilo quase nada. E alguma cousa, se a provavam, lançavam-na fogo fora. Trouxeram-lhes vinho por uma taça, mal lhe puseram a boca e não gostaram dele nada nem o quiseram mais.

Trouxeram-lhes água por uma albarrada; tomou cada um deles um bocado dela e não beberam; somente lavaram as bocas e lançaram fora. Viu um deles umas contas de rosairo, brancas; acenou que lhas dessem e folgou muito com elas e lançou-as ao pescoço e despois tirou-as e embrulhou-as no braço; e acenava para a terra e então para as contas e para o colar do capitão, como que dariam ouro por aquilo.

Isto tomávamos nós assim por o desejarmos; mas, se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não queríamos nós entender, porque lhos não havíamos de dar. E despois tornou as contas a quem lhas deu. E então estiraram-se assim de costas na alcatifa, a dormir, sem ter nenhuma maneira de cobrirem suas vergonhas, as quais não eram fanadas e as cabeleiras delas bem rapadas e feitas. O capitão mandou pôr à cabeça de cada um deles um coxim e o da cabeleira procurava assaz por a não quebrar. E lançaram-lhes um manto em cima e eles consentiram e ficaram e dormiram.”

24 abril 2004

CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (II)

"E, tanto que ele começou para lá d'ir, acudiram pela praia homens, quando dois, quando três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, eram ali 18 ou 20 homens pardos, todos nus, sem nenhuma cousa que lhes cobrisse suas vergonhas.

Traziam arcos nas mãos e suas setas. Vinham todos rijos para o batel e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pusessem os arcos; e eles os puseram.

Ali não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente deu-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de linho, que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe deu um sombreiro de penas d'aves, compridas, com uma copazinha pequena de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas, que querem parecer d'aljaveira, as quais peças creio que o capitão manda a Vossa Alteza.

E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder deles haver mais fala, por azo do mar. A noute seguinte ventou tanto sueste com chuvaceiros, que fez caçar as naus e especialmente a capitania.

E à sexta, pela manhã, às 8 horas, pouco mais ou menos, por conselho dos pilotos, mandou o capitão levantar âncoras fazer vela. E fomos de longo da costa, com os batéis e esquifes amarrados pela popa, contra o norte para ver se achávamos alguma abrigada e bom pouso, onde ficássemos para tomar água e lenha, não por nos já minguar, mas por nos acertarmos aqui. E quando fizemos vela seriam já na praia assentados junto com o rio obra de 60 ou 70 homens, que se juntaram ali poucos e poucos.

Fomos de longo, e mandou o capitão aos navios pequenos que fossem mais chegados à terra e que, se achassem pouso seguro para as naus, que amainassem. E, sendo nós pela costa, obra de 10 léguas donde nos levantámos acharam os ditos navios pequenos um arrecife com um porto dentro, muito bom e muito seguro, com uma mui larga entrada. E meteram-se dentro e amainaram. E as naus arribaram sobre eles. E um pouco ante sol-posto amainaram obra d'uma légua do arrecife ancoraram-se em 11 braças.

Desembarque.jpegE sendo Afonso Lopes, nosso piloto, em um daqueles navios pequenos por mandado do capitão, por ser homem vivo e destro para isso, meteu-se logo no esquife a sondar o porto dentro. E tomou em uma almadia dous daqueles homens da terra, mancebos e de bons corpos. E um deles trazia um arco e 6 ou 7 setas. E na praia andavam muitos com seus arcos e setas e não lhes aproveitaram. Trouxe-os logo já de noute, ao capitão, onde foram recebidos com muito prazer e festa. A feição deles é serem pardos, maneira d'avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos.

Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto. Traziam ambos os beiços de baixo furados e metido por eles um osso branco de comprimento duma mão travessa e de grossura dum fuso d'algodão e agudo na ponta como furador.”

CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (I)

“SENHOR

Posto que o capitão-mor desta vossa frota e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que se ora nesta navegação achou, não deixarei também de dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que para o bem contar e falar o saiba pior que todos fazer.

Mas tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual, bem certo, creia que por afremosentar nem apear haja aqui de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.

Da marinhagem e singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza, porque o não saberei fazer e os pilotos devem ter esse cuidado.

E, portanto, Senhor, do que hei-de falar começo e digo que a partida de Belém, como Vossa Alteza sabe, foi segunda-feira, 9 de Março.

E sábado, 14 do dito mês, entre as 8 e 9 horas, nos achámos entre as Canárias, mais perto da Grã Canária. E ali andámos todo aquele dia, em calma, à vista delas, obra de três ou quatro léguas.

E domingo, 22 do dito mês, às 10 horas, pouco mais ou menos, houvemos vista das ilhas do Cabo Verde, isto é, da ilha de S. Nicolau, segundo dito de Pêro Escobar, piloto. E a noute seguinte, à segunda-feira, quando lhe amanheceu, se perdeu da frota Vasco d'Ataíde, com a sua nau, sem aí haver tempo forte nem contrairo para poder ser. Fez o capitão suas diligências para o achar, a umas e a outras partes, e não apareceu mais.

E assim seguimos nosso caminho por este mar e longo, até terça-feira d'oitavas de Páscoa, que foram 21 dias d'Abril, que topámos alguns sinais de terra, sendo da dita ilha, segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas, os quais eram muita quantidade d'ervas compridas, a que os mareantes chamam botelho e assim outras, a que também chamam rabo d'asno.

MapaBrasil.jpeg

E à quarta-feira seguinte, pela manhã, topámos aves, a que chamam fura-buchos. E neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d'um grande monte, mui alto e redondo, e d'outras serras mais baixas a sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs nome o Monte Pascoal e à terra a Terra de Vera Cruz.

Mandou lançar o prumo, acharam 25 braças, e, ao solposto, obra de 6 léguas de terra, surgimos âncoras em 19 braças; ancoragem limpa. Ali ficámos toda aquela noute.

E à quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos direitos à terra e os navios pequenos diante, indo por 17, 16, 15, 14, 13, 12, 10 e 9 braças até meia légua de terra, onde todos lançámos âncoras em direito da boca dum rio. E chegaríamos a esta ancoragem às 10 horas, pouco mais ou menos.

E dali houvemos vista d'homens, que andavam pela praia, de 7 ou 8, segundo os navios pequenos disseram, por chegarem primeiro. Ali lançámos os batéis e esquifes fora e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau do capitão-mor e ali falaram. E o capitão mandou no batel, em terra, Nicolau Coelho, para ver aquele rio.”

23 abril 2004

PEDRO ÁLVARES CABRAL – A VIDA E A VIAGEM (IV)

PACabralSeguiria para Cochim, onde, chegado a 24 de Dezembro, seria recebido pacificamente, estabelecendo uma feitoria e alcançando uma aliança com o Samorim, carregando de especiarias (pimenta, canela e gengibre) os porões das naus, iniciando o regresso a Lisboa a 16 de Janeiro de 1501.

Chegaria a Lisboa a 23 de Julho de 1501, no termo de uma expedição não muito bem sucedida, em particular, pela incapacidade em submeter o Samorim de Calecut, apesar dos ricos carregamentos que transportara.

No ano seguinte, chegou a ser escolhido para comando da expedição no regresso à Índia, o que não se viria contudo a concretizar, vindo a ser substituído por Vasco da Gama.

Para honrar a palavra do Rei e a pedido deste, Cabral desistiu da capitania da sua segunda armada à Índia. D. Manuel agradeceu-lhe e prometeu que lhe daria o comando de outras armadas.

Porém, Pedro Álvares Cabral acabaria por se retirar da corte, fixando-se nas suas propriedades próximo de Santarém, onde viveu até 1520, tendo sido entretanto agraciado com a comenda da Ordem de Cristo.

Tinha dado ao sonhado Império Português a sua maior dimensão, desde as terras da América abrangidas pela linha de Tordesilhas até ao Oriente. Estranhamente, nem o Rei D. Manuel I, nem os seus conselheiros, perceberam que este navegador trouxera também a notícia de uma terra de rara beleza e riqueza.

Apenas em 1514 seria agraciado com uma tença de 200 mil reais anuais. Só a partir de cerca de 1530, a Terra de Santa Cruz começaria a ser colonizada e, apenas em 1540, adquiria o seu nome definitivo, Brasil (com origem na madeira pau-brasil).

P. S. A propósito de Pedro Álvares Cabral, visite-se a excelente página da C. M. Belmonte, uma das fontes para as notas aqui apresentadas nos últimos dias.

22 abril 2004

PEDRO ÁLVARES CABRAL – A VIDA E A VIAGEM (III)

PACabralDe qualquer forma, Pedro Álvares Cabral apenas permaneceria em terra (na actual Baía Cabrália, na costa da Bahia) durante cerca de 10 dias, em que estabeleceu contactos com os índios, tendo sido também celebradas algumas missas.

Contudo, antes de retomar caminho para Oriente, via Cabo da Boa Esperança, a 2 de Maio, mandou erguer um padrão de pedra, tendo entretanto despachado um navio para Portugal (a nau de Gaspar Lemos) com a importante notícia do descobrimento (“achamento”) do Brasil, uma carta escrita por Pêro Vaz de Caminha.

Durante o percurso até à Índia, a armada perde mais cinco navios devido a uma tormenta de vinte dias ao largo do cabo da Boa Esperança, com furiosos vendavais e um mar agitado: quatro deles naufragaram, tendo perecido todos os tripulantes, incluindo Bartolomeu Dias, o primeiro a ter realizado o feito de “dobrar” esse cabo (em 1487); enquanto que uma nau se afastou, apenas se vindo a juntar novamente a Pedro Álvares Cabral em Cabo Verde, já aquando do regresso.

Depois de se deter algumas vezes na costa leste de África (em Sofala, Moçambique e Melinde), apenas seis naus avistariam Calecut, a 13 de Setembro de 1500.

Pedro Álvares Cabral procurava estabelecer uma feitoria em terra; contudo, muitos dos seus ocupantes portugueses acabariam por ser massacrados. O capitão português retaliou, queimando as embarcações muçulmanas que se encontravam no porto e bombardeando a cidade, sem conseguir contudo submeter o Samorim.

21 abril 2004

PEDRO ÁLVARES CABRAL – A VIDA E A VIAGEM (II)

PACabralDepois dos preparativos, no Domingo de 8 de Março, a viagem iniciou-se a 9 de Março de 1500, partindo do Restelo, transpondo a barra do Tejo e entrando nas águas do Atlântico.

Seguindo as instruções náuticas de Vasco da Gama, começou por passar no arquipélago de Cabo Verde, tendo depois, devido aos ventos e correntes, de alargar a rota para Sudoeste, pelo Atlântico Sul.

E é nesse “desvio” de quase um mês, talvez ainda mais impulsionado para Oeste pelos fortes ventos alísios, que, dois dias depois da Páscoa, a 21 de Abril – não sendo definitivo se por mero acaso, ou se em resultado de uma iniciativa intencional pré-determinada de exploração de novas terras (eventualmente já antes descobertas, em 1498, por Duarte Pacheco Pereira –, se avista grande quantidade de algas no mar.

PACabral-Mapa.jpegNo dia seguinte, vêem-se aves no céu, indiciando a proximidade de terra firme. Quando, horas depois, nesse dia de 22 de Abril, a terra é avistada, é dado o nome de Monte Pascoal a uma elevação, chamando-se à terra, “Terra de Vera Cruz”.

Na manhã seguinte, a 23 de Abril de 1500, a armada aproxima-se da linha de costa, vindo Nicolau Coelho a desembarcar, vendo então os primeiros indígenas (índios Aymoré), que parecem ter uma atitude pacífica, não mostrando intenção de fazer uso dos arcos e setas que transportam.

No dia seguinte, toda a tripulação desembarcaria, 10 léguas a Norte, em Porto Seguro, ficando deslumbrados com o clima, paisagens, animais e com as gentes “pardos e todos nus”.

Mais tarde, saber-se-ia que Cabral não fora o primeiro europeu a chegar ao Brasil; anteriormente, já Américo Vespucci (em Julho de 1499) e o espanhol Vicente Yañez Pinzón, antigo tripulante da armada de Colombo (em Janeiro de 1500) haviam avistado essa nova terra.

O que nunca foi possível confirmar foi se os portugueses já conheceriam a sua existência antes e se tal teria sido o motivo de terem conseguido uma revisão da repartição original do mundo em duas zonas de exploração (Portuguesa e Espanhola), ajustando a linha de separação mais para ocidente, de forma a incluir o território do Brasil na zona portuguesa (Tratado de Tordesilhas de 1494), o que teria levado a que o mesmo não tivesse sido anteriormente explorado.

20 abril 2004

PEDRO ÁLVARES CABRAL – A VIDA E A VIAGEM (I)

PACabralPedro Álvares Cabral nasceu em Belmonte, por volta de 1467-1468, nono filho de Fernão Cabral, alcaide-mor de Belmonte e regedor da justiça real na comarca da Beira e Ribacoa, e de Isabel Gouveia.

Embora não beneficiasse das honrarias (donatarias e senhorios) acordadas ao filho primogénito, cedo ingressou como moço fidalgo na corte de D. João II (1478), ainda com o sobrenome materno de Gouveia, com o objectivo de receber uma educação própria da sua condição social, incluindo a instrução literária, assim como o uso de armas.

Viria posteriormente a prestar serviço numa praça do Norte de África, após o que, ainda jovem, casaria com Isabel de Castro, sobrinha do que viria a ser o maior governante da Índia, Afonso de Albuquerque.

Após o regresso de Vasco da Gama da Índia no Outono de 1499, dando conta ao rei das dificuldades em comerciar com os povos orientais, em Fevereiro de 1500 D. Manuel nomeia Pedro Álvares Cabral capitão-mor de uma armada de 13 navios (10 naus e três caravelas – tendo também por capitães Nicolau Coelho, Bartolomeu Dias, Diogo Dias, Sancho de Tovar, Simão de Miranda de Azevedo, Aires Gomes da Silva, Pedro de Ataíde, Vasco de Ataíde, Simão de Pina, Nuno Leitão da Cunha, Gaspar de Lemos e Luís Pires e recorrendo aos experientes pilotos Pêro Escobar, Pêro de Alenquer e Afonso Lopes), para uma segunda expedição à Índia.

Foi-lhe confiada a missão de transportar 1 500 homens para terras do Oriente (a maior frota de sempre, comparando com apenas cerca de 170 homens na primeira expedição à Índia) e conseguir restabelecer relações de amizade e alianças de comércio com o Samorim de Calecut, de forma a assegurar o domínio da rota e do comércio de especiarias, por via do estabelecimento permanente no território, tendo ainda presente a intenção de difundir o cristianismo entre os povos do Oriente.

19 abril 2004

MODERNISMO (II)

No primeiro número da revista Orpheu, surgiam críticas violentas, nomeadamente nos poemas “Ode Triunfal”, de Álvaro de Campos e “Manucure”, de Mário de Sá-Carneiro.

Paradoxalmente, a revista esgotou por via de um “sucesso negativo”: quem comprava a revista, lançava de imediato a sua ira contra os autores.

Apenas teria um segundo e último número, em Julho de 1915, mais orientada para o Futurismo, não chegando a ser editado o terceiro número, na sequência do suicídio de Mário de Sá-Carneiro.

Não obstante, a ela se sucederiam diversas publicações, embora também com vida efémera, de que se destacam: “Centauro” (1916), “Exílio” (1916), “Ícaro” (1917) e “Portugal Futurista” (1917).

Após o primeiro período, do “Orphismo”, numa segunda fase, surgiria a revista “Presença”, lançada em Marco de 1927, fundada por Branquinho da Fonseca (que viria a ser substituído, em 1930, por Adolfo Casais Monteiro), vindo a ter nomeadamente como colaboradores Miguel Torga, José Régio, Adolfo Rocha, João Gaspar Simões e Irene Lisboa, iniciando-se um período designado pelo “Presencismo”.

Defendiam uma análise interior e introspecção, colocando ênfase no individualismo e esteticismo.

Através da “Presença”, seriam divulgadas as principais obras e escritores europeus da primeira metade do século XX.

Com o termo da actividade deste grupo, em 1940, encerrava-se o “Modernismo” em Portugal.

Seguir-se-iam mais tarde as fases do Neo-realismo (em que os escritores da época apresentavam uma literatura de carácter social, aproximada à dos autores do Realismo) e Surrealismo (influenciadas pelas teorias de André Breton).

18 abril 2004

MODERNISMO (I)

No início do século XX, começaram a surgir revistas culturais, principal fonte de divulgação da arte; em 1910, era lançada a revista “Águia”, dirigida por Teixeira de Pascoaes, tendo por objectivo a exaltação da Pátria, por via do saudosismo, ressurgindo então o mito do “Sebastianismo”. Seria ainda uma fase de “Pré-Modernismo”.

“Modernismo” teria o seu início em Portugal por volta de 1915 com o lançamento, em Abril desse ano, da revista “Orpheu”, por um grupo de escritores e artistas plásticos, compreendendo nomeadamente Almada Negreiros, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Raul Leal e Luís de Montalvor.

Este grupo era influenciado pelo “Futurismo” de Marinetti, assim como pelo existencialismo de Heidegger, que defendia o determinismo individual acima da determinação social, tendo como objectivo principal exaltar a modernidade e colocar Portugal “a par da Europa”.

Iniciava-se então em Portugal (desde Outubro de 1910) o período republicano, marcado por graves crises, que levou à criação de duas correntes opostas: a nacionalista (favorável ao governo) e a integralista (defendendo as ideias do nazi-fascismo então emergente na Europa).

A par de um período “revolucionário” de golpes e contra-golpes de Estado, nos primeiros anos da República, o contexto internacional era também muito conturbado, com a I Guerra Mundial (colocando em causa a posse das colónias portuguesas em África, o que obrigou à participação activa de Portugal, com corpos expedicionários em França) e, de seguida, a Revolução Russa de 1917.

17 abril 2004

FUTURISMO EM PORTUGAL

Portugal tomou contacto com o Futurismo por intermédio de intelectuais portugueses que se encontravam em Paris, Mário de Sá-Carneiro e o pintor Guilherme Santa-Rita, que encararia o movimento com grande entusiasmo, vindo a assumir-se como o seu líder em Portugal, o que, contudo, se consubstanciava apenas na publicação, no 2º volume da Revista Orpheu (Julho de 1915), de quatro “trabalhos futuristas”.

Mais vincadamente, seria através dos poetas que surgiriam composições poéticas de cariz futurista, em particular, a “Ode Triunfal” e a “Ode Marítima”, de Fernando Pessoa; “Manucure”, de Mário de Sá-Carneiro e o “Manifesto Anti-Dantas”, de Almada Negreiros.

Em Abril de 1917, seria realizado um espectáculo “futurista”, desenvolvido por Almada Negreiros e Santa-Rita, em que o primeiro leria o seu “Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX” – em que declarava: “Eu não pertenço a nenhuma das gerações revolucionárias. Eu pertenço a uma geração construtiva. (…) É preciso criar a pátria portuguesa do século XX. O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem Portugueses, só vos faltam as qualidades”, adiantando ainda que, para cumprir este objectivo, seria necessário combater o romantismo, o saudosismo, o sentimentalismo sebastianista, o amadorismo e o derrotismo.

Seriam ainda apresentados o “Manifesto Futurista da Luxúria”, de Mme. de Saint-Point, e o texto “Music-Hall et Tuons le Clair de Lune”, de Marinetti. Esta apresentação não viria contudo a ter grande adesão.

Surgiria ainda, de seguida, a Revista “Portugal Futurista”, que seria todavia apreendida pela polícia.

O “Futurismo” teria consequentemente uma vida muito curta em Portugal, de pouco mais de 6 meses, sem prejuízo de ter deixado importantes influências particularmente em Almada Negreiros (poeta, dramaturgo, romancista, caricaturista, coreógrafo e… futurista), recorrendo nomeadamente ao “escândalo” (de que constitui melhor exemplo o “Manifesto Anti-Dantas”), o que levaria a que fosse considerado “louco”.

16 abril 2004

FUTURISMO – "MANIFESTO FUTURISTA"

O Futurismo revelou-se como uma vertente do Modernismo, tendo sido introduzido em 1909 por Filippo Marinetti, com o seu "Manifesto Futurista", caracterizando-se pela exaltação da velocidade, energia e da força, a par de uma inquestionável crença no progresso científico-tecnológico, anunciando paralelamente uma nova concepção estética, simbolizada por exemplo no automóvel, projectando-se no futuro.

MANIFESTO FUTURISTA (Publicado em 20 de Fevereiro de 1909, no "Le Figaro")

1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade.

2. A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia.

3. A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insónia febril, o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco.

4. Nós afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com o seu cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia.

5. Nós queremos glorificar o homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada também numa corrida sobre o circuito da sua órbita.

6. É preciso que o poeta prodigalize com ardor, esforço e liberdade, para aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais.

7. Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhuma obra que não tenha um carácter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças desconhecidas, para obrigá-las a prostrar-se diante do homem.

8. Nós estamos no promontório extremo dos séculos!... Por que haveríamos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Já estamos vivendo no absoluto, pois já criamos a eterna velocidade omnipotente.

9. Queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo –, o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher.

10. Queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de toda a natureza, e combater o moralismo, o feminismo e toda a vileza oportunista e utilitária.

11. Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos as marés multicores e polifónicas das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor nocturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas lutas eléctricas; as estações esganadas, devoradoras de serpentes que fumam; as fábricas penduradas nas nuvens pelos fios contorcidos de suas fumaças; as pontes, semelhantes a ginastas gigantes que cavalgam os rios, faiscantes ao sol com um luzir de facas; os piróscafos aventurosos que farejam o horizonte, as locomotivas de largo peito, que pateiam sobre os trilhos, como enormes cavalos de aço enleados de carros; e o voo rasante dos aviões, cuja hélice freme ao vento, como uma bandeira, e parece aplaudir como uma multidão entusiasta.

15 abril 2004

ALMADA NEGREIROS – "MANIFESTO ANTI-DANTAS" (VII)

“E as convicções urgentes do homem Cristo Pai e as convicções catitas do homem Cristo Filho!…

E os concertos do Blanch! E as estátuas ao leme, ao Eça e ao despertar e a tudo! E tudo o que seja arte em Portugal! E tudo! Tudo por causa do Dantas!

Morra o Dantas, morra! Pim!

Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mais atrasado da Europa e de todo o Mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degredados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia – se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!

Morra o Dantas, morra! Pim!”

José de Almada Negreiros

Poeta d’Orpheu

Futurista E Tudo

1915

14 abril 2004

ALMADA NEGREIROS – "MANIFESTO ANTI-DANTAS" (VI)

“E fique sabendo o Dantas que se um dia houver justiça em Portugal todo o mundo saberá que o autor de Os Lusíadas é o Dantas que num rasgo memorável de modéstia só consentiu a glória do seu pseudónimo Camões.

E fique sabendo o Dantas que se todos fossem como eu, haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar.

Mas julgais que nisto se resume literatura portuguesa? Não Mil vezes não!

Temos, além disto o Chianca que já fez rimas prá Aljubarrota que deixou de ser a derrota dos Castelhanos pra ser a derrota do Chianca.

E as pinoquices de Vasco Mendonça Alves passadas no tempo da avózinha! E as infelicidades de Ramada Curto! E o talento insólito de Urbano Rodrigues! E as gaitadas do Brun! E as traduções só pra homem do ilustríssimos excelentíssimo senhor Mello Barreto! E o frei Matta Nunes Moxo! E a Inês Sifilítica do Faustino! E as imbecelidades do Sousa Costa! E mais pedantices do Dantas! E Alberto Sousa, o Dantas do desenho! E os jornalistas do Século e da Capital e do Notícias e do Paiz e do Dia e da Nação e da República e da Lucta e de todos, todos os jornais! E os actores de todos os teatros! E todos os pintores das Belas-Artes e todos os artistas de Portugal que eu não gosto. E os da águia do Porto e os palermas de Coimbra! E a estupidez do Oldemiro César e o Dr. José de Figueiredo Amante do Museu e ah oh os Sousa Pinto hu hi e os burros de cacilhas e os menos do Alfredo Guisado! E (o) raquítico Albino Forjaz de Sampaio, crítico da Lucta a quem Fialho com imensa piada intrujou de que tinha talento! E todos os que são políticos e artistas! E as exposições anuais das Belas-Arte(s)! E todas as maquetas do Marquês de Pombal! E as de Camões em Paris; e os Vaz, os Estrela, os Lacerda, os Lucena, os Rosa, os Costa, os Almeida, os Camacho, os Cunha, os Carneiro, os Barros, os Silva, os Gomes, os velhos, os idiotas, os arranjistas, os impotentes, os celerados, os vendidos, os imbecis, os párias, os ascetas, os Lopes, os Peixotos, os Motta, os Godinho, os Teixeira, os Câmara, os diabo que os leve, os Constantino, os Tertuliano, os Grave, os Mântua, os Bahia, os Mendonça, os Brazão, os Matos, os Alves, os Albuquerques, os Sousas e todos os Dantas que houver por aí!!!!!!!!!”

13 abril 2004

ALMADA NEGREIROS – "MANIFESTO ANTI-DANTAS" (V)

“Esteve mesmo muito perto de se estrear com um par de murros na coroa do bispo no que se mostrou de um atrevimento, de uma insolência e de uma decisão refilona que excedeu todas as expectativas.

Ouve-se uma corneta tocar uma marcha de clarins e Mariana sentindo nas patas dos cavalos toda a alma do seu preferido foi qual pardalito engaiolado a correr até às grades da janela gritar desalmadamente plo seu Noel. Grita, assobia e rodopia e pia e rasga-se e magoa-se e cai de costas com um acidente, do que já previamente tinha avisado o público e o pano cai e o espectador também cai da paciência abaixo e desata numa destas pateadas tão enormes e tão monumentais que todos os jornais de Lisboa no dia seguinte foram unânimes naquele êxito teatral do Dantas.

A única consolação que os espectadores decentes tiveram foi a certeza de que aquilo não era a soror Mariana Alcoforado mas sim uma merdariana-aldantascufurado que tinha cheliques e exageros sexuais.

Continue o senhor Dantas a escrever assim que há-de ganhar muito com o Alcufurado e há-de ver que ainda apanha uma estátua de prata por um ourives do Porto, e uma exposição das maquetes pró seu monumento erecto por subscrição nacional do «Século» a favor dos feridos da guerra, e a Praça de Camões mudada em Praça Dr. Júlio Dantas, e com festas da cidade plos aniversários, e sabonetes em conta «Júlio Dantas» e pasta Dantas prós dentes, e graxa Dantas prás botas e Niveína Dantas, e comprimidos Dantas, e autoclismos Dantas e Dantas, Dantas, Dantas, Dantas… E limonadas Dantas-Magnésia.”

12 abril 2004

ALMADA NEGREIROS – "MANIFESTO ANTI-DANTAS" (IV)

“E seria até uma excelente personificação das bruxas de Goya se quando falasse não tivesse aquela voz tão fresca e maviosa da Tia Felicidade da vizinha do lado. E reparando nos dois vultos interroga espaçadamente com cadência, austeridade e imensa falta de corda… Quem está aí?… E de candeias apagadas?

– Foi o vento, dizem as pobres inocentes varadas de terror… E a abadessa que só é velha nos óculos, na bengala e em andar curvada prá frente manda tocar a sineta que é um dó d’alma o ouvi-la assim tão debilitada. Vão todas pró coro, mas eis que, de repente, batem no portão sem se anunciar nem limpar-se da poeira, sobe a escada e entra plo salão um bispo de Beja que quando era novo fez brejeirices com a menina do chocolate.

Agora completamente emendado revela à abadessa que sabe por cartas que há homens que vão às mulheres do convento e que ainda há pouco vira um de cavalos a saltar pla janela. A abadessa diz que efectivamente já há tempos que vinha dando pela falta de galinhas e tão inocentinha, coitada, que naqueles oitenta anos ainda não teve tempo pra descobrir a razão da humanidade estar dividida em homens e mulheres. Depois de sérios embaraços do bispo é que ela deu com o atrevimento e mandou chamar as duas freiras de há pouco com as candeias apagadas. Nesta altura esta peça policial toma uma pedaço d’interesse porque o bispo ora parece um polícia de investigação disfarçado em bispo, ora um bispo com a falta de delicadeza de um polícia d’investigação, e tão perspicaz que descobre em menos de meio minuto o que o público já está farto de saber – que a Mariana dormiu com o Noel. O pior é que a Mariana foi à serra com as indiscrições do bispo e desata a berrar, a berrar como quem se estava marimbando pra tudo aquilo.”

11 abril 2004

ALMADA NEGREIROS – "MANIFESTO ANTI-DANTAS" (III)

“Vocês não sabem quem é a soror Mariana do Dantas? Eu vou-lhes contar:

A princípio, por cartazes, entrevistas e outras preparações com as quais nada temos que ver, pensei tratar-se de soror Mariana Alcoforado a pseudo autora daquelas cartas francesas que dois ilustres senhores desta terra não descansaram enquanto não estragaram pra português, quando subiu o pano também não fui capaz de distinguir porque era noite muito escura e só depois de meio acto é que descobri que era de madrugada porque o bispo de Beja disse que tinha estado à espera do nascer do Sol!

A Mariana vem descendo uma escada estreitíssima mas não vem só, traz também o Chamilly que eu não cheguei a ver, ouvindo apenas uma voz muito conhecida aqui na Brasileira do Chiado. Pouco depois o bispo de Beja é que me disse que ele trazia calções vermelhos.

A Mariana e o Chamilly estão sozinhos em cena, e às escuras, dando a entender perfeitamente que fizeram indecências no quarto. Depois o Chamilly, completamente satisfeito, despede-se e salta pela janela com grande mágoa da freira lacrimosa. E ainda hoje os turistas têm ocasião de observar as grades arrombadas da janela do quinto andar do Convento da Conceição de Beja na Rua do Touro, por onde se diz que fugiu o célebre capitão de cavalos em Paris e dentista em Lisboa.

A Mariana que é histérica começa a chorar desatinadamente nos braços da sua confidente e excelente pau de cabeleira soror Inês.

Vêm descendo pla dita estreitíssima escada, várias Marianas, todas iguais e de candeias acesas, menos uma que usa óculos e bengala e ainda toda curvada prá frente o que quer dizer que é abadessa.”

10 abril 2004

ALMADA NEGREIROS – "MANIFESTO ANTI-DANTAS" (II)

“Não é preciso ir pró Rossio pra se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!

Não é preciso disfarçar-se pra se ser salteador, basta escrever como o Dantas!

Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos! Basta ser Judas! Basta ser Dantas!

Morra o Dantas, morra! Pim!

O Dantas nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever!

O Dantas é um autómato que deita pra fora o que a gente já sabe o que vai sair… Mas é preciso deitar dinheiro!

O Dantas é um soneto dele-próprio!

O Dantas em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum.

O Dantas nu é horroroso!

O Dantas cheira mal da boca!

Morra o Dantas, morra! Pim!

O Dantas é o escárnio da consciência!

Se o Dantas é português eu quero ser espanhol!

O Dantas é a vergonha da intelectualidade portuguesa!

O Dantas é a meta da decadência mental!

E ainda há quem não core quando diz admirar o Dantas!

E ainda há quem lhe estenda a mão!

E quem lhe lave a roupa!

E quem tenha dó do Dantas!

E ainda há quem duvide que o Dantas não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!”

09 abril 2004

ALMADA NEGREIROS – "MANIFESTO ANTI-DANTAS" (I)

“Basta pum basta!!!

Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d’indigentes, d’indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!

Abaixo a geração!

Morra o Dantas, morra! Pim!

Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro impotente!

Uma geração com um Dantas ao leme é uma canoa em seco!

O Dantas é um cigano!

O Dantas é meio cigano!

O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias pra cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!

O Dantas pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de duquesas!

O Dantas é um habilidoso!

O Dantas veste-se mal!

O Dantas usa ceroulas de malha!

O Dantas especula e inocula os concubinos!

O Dantas é Dantas!

O Dantas é Júlio!

Morra o Dantas, morra! Pim!

O Dantas fez uma soror Mariana que tanto o podia ser como a soror Inês ou a Inês de Castro, ou a Leonor Teles, ou o Mestre d’Avis, ou a Dona Constança, ou a Nau Catrineta, ou a Maria Rapaz!

E o Dantas teve claque! E o Dantas teve palmas! E o Dantas agradeceu!

O Dantas é um ciganão!”

08 abril 2004

ALMADA NEGREIROS (II)

Regressado a Portugal, iniciou uma colaboração com António Ferro, que o convidou para desenhar para a “Ilustração Portuguesa”; em 1923, desenharia a capa do livro de Ferro (“A Arte de Bem Morrer”).

Continuaria a escrever peças (“Pierrot e Arlequim”, 1924), romances (“Nome de Guerra”, em 1925) e ensaios (“Questão dos Painéis”, 1926).

Partiria depois para Espanha, onde viveu de 1927 a 1932, casando em 1934 com a pintora Sarah Afonso.

Começou depois a trabalhar para o Estado, com um selo comemorativo da 1ª Exposição Colonial, um cartaz para o álbum “Portugal 1934”. Desenvolve também os estudos para os vitrais da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa, concluídos em 1938.

Em 1942, depois da exposição “Almada – Trinta Anos de Desenho”, ganha o “Prémio Columbano”. Nos anos de 1943 a 1948, ocupou-se com os frescos das Gares Marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos, ganhando, em 1946, o Prémio Domingos Sequeira.

Em 1951, realizou também os vitrais da Igreja do Santo Condestável em Lisboa e os da Capela de S. Gabriel, em Vendas Novas. Em 1954, pinta o “Retrato de Fernando Pessoa”.

No final da década de 50, participaria na decoração de obras de arquitectura, nomeadamente painéis para o Edifício das Águas livres, decoração das fachadas dos edifícios da Cidade Universitária.

Realizaria os seus últimos trabalhos em 1969, com o painel “Começar”, do átrio da Fundação Calouste Gulbenkian. Almada Negreiros deixou-nos a 15 de Junho de 1970 (tal como Fernando Pessoa, no Hospital de São Luís dos Franceses).

07 abril 2004

ALMADA NEGREIROS (I)

AlmadaNegreiros-Auto-retratoJosé Sobral de Almada Negreiros nasceu em S. Tomé e Príncipe em 7 de Abril de 1893, filho do administrador do concelho de S. Tomé.

Estudou no Colégio dos Jesuítas de Campolide e, posteriormente (em 1910), no Liceu de Coimbra, tendo, a partir de 1811, frequentado a Escola Internacional de Lisboa.

Em 1913, apresentou a sua primeira exposição individual, mostrando cerca de 90 desenhos. Nesta mesma época, conheceu Fernando Pessoa.

Colaborava já então como ilustrador de diversas publicações; em 1914, seria director artístico do semanário monárquico “Papagaio Real”.

Em 1915, escreveu a novela “A Engomadeira”, que publicaria em 1917, numa aproximação ao surrealismo. Colabora também na Revista “Orpheu”, realizando ainda, no mesmo ano, o bailado “O Sonho da Rosa”. Também em 1915, escreveria, a propósito da peça de Júlio Dantas (“Soror Mariana”) o “Manifesto Anti-Dantas”, uma crítica dirigida contra o escritor então dominante na literatura “conservadora” em Portugal, em relação ao qual Almada aplica a sua violenta ironia.

De seguida, publicaria o Manifesto da exposição de Amadeo de Souza Cardoso, denominado “Primeira Descoberta de Portugal na Europa no Século XX”, assim como a novela “K4 O Quadrado Azul”.

Em 1919, com o termo da I Guerra Mundial, partiu para Paris, onde publicou, em 1922, “Histoire du Portugal par coeur”.

06 abril 2004

ST. KITTS E NEVIS

A federação de St. Kitts e Nevis (ou S. Cristóvão e Nevis) localiza-se nas Pequenas Antilhas, a leste da República Dominicana.

Trata-se de duas ilhas, de origem vulcânica, de solos férteis, onde se cultiva a cana-de-açúcar. O turismo começa a ganhar importância, em particular na ilha de Nevis.

As ilhas foram avistadas, em 1493, por Colombo, que chamou à mais pequena Nuestra Señora de las Nieves, devido ao seu cone vulcânico coberto de nuvens, a fazer lembrar um pico coberto de neve. A maior ilha (St. Kitts) foi baptizada como São Cristóvão, em honra do santo patrono do próprio Colombo, e também patrono dos viajantes.

A maior ilha, St. Kitts, tem a forma de um girino, com a capital, Bassetere, na costa sudeste, perto da cauda. Está separada de Nevis por um canal de 3 km (The Narrows). O território tem uma superfície de 260 km2, dispondo de cerca de 45 000 habitantes.

Em 1623, St. Kitts foi a primeira ilha das Caraíbas a ser colonizada pelos ingleses. Em 1626, ingleses e franceses provocaram um massacre da população indígena. A sua localização estratégica e importância da indústria açucareira fizeram com que fosse disputado entre franceses e ingleses até 1783, altura em que passou a ser colónia britânica. Viria a tornar-se independente em 1985.

05 abril 2004

SÃO VICENTE E GRENADINAS

StVincentGrenadinesAs ilhas de St. Vincent & Grenadines situam-se no extremo sul do arco das Pequenas Antilhas, próximo da costa da Venezuela.

As suas águas quentes, no mar das Caraíbas, e as praias, fazem com que seja uma atracção turística, nomeadamente para os que se deslocam em iates e veleiros, em viagens inter-ilhas.

O território abrange a luxuriantemente fértil ilha de St. Vincent e uma centena de ilhotas que formam as Grenadinas, a maior parte delas desabitadas (apenas 8 povoadas).

A impenetrável selva verde do interior montanhoso manteve os europeus afastados durante anos, proporcionando refúgio aos bandos guerrilheiros de índios, assim como aos escravos fugitivos. Depois do final das Guerras Caribes, em 1797, os ingleses tomaram finalmente o controlo sobre as ilhas, administradas pelo Reino Unido até 1979, data em que o país alcançou a independência.

A capital situa-se em Kingstown. O território tem um total de 390 km2, com uma população de cerca de 110 000 habitantes.

Tem um vulcão (La Soufrière), com 1234 metros de altitude e ainda activo.

A actividade principal é a agricultura, nomeadamente a cana-de-açúcar, algodão, araruta e banana.

04 abril 2004

SANTA LÚCIA

StaLuciaA ilha de Santa Lúcia situa-se no extremo do arco das pequenas antilhas, próximo da costa da Venezuela, tendo a norte a Martinica (território francês) e, a sul, S. Vicente e Grenadinas.

Apresenta alguns vulcões extintos, em particular os famosos Pitons, dois cones vulcânicos gémeos, emergindo do mar, com cerca de 800 metros de altitude; sendo localizada numa zona tropical, é frequentemente assolada por furacões. É uma das mais luxuriantes e belas ilhas das Caraíbas, com grandes planícies e enseadas abrigadas.

O porto da capital, Castries, é escala regular dos cruzeiros pelo mar das Caraíbas. O país tem um território de 616 km2, com uma população de cerca de 140 000 habitantes.

Os ingleses e franceses lutaram continuadamente pelo domínio da ilha, entre 1674 e 1814, tendo "mudado de mãos" pelo menos 14 vezes. Foi administrada pelo Reino Unido até 1979, data em que se tornou independente, mas subsiste todavia alguma influência francesa.

A cultura tradicional é a da banana.

03 abril 2004

R. DOMINICANA

A República Dominicana ocupa a parte oriental da ilha de São Domingos (Hispaniola), fazendo fronteira com o Haiti, tendo a norte o Oceano Atlântico e, a sul, o mar das Caraíbas.

Foi descoberta por Cristóvão Colombo em 1492, tendo-se tornado independente em 1865.

Em Outubro de 1538, fora fundada a primeira Universidade da América, a Universidade de São Tomás de Aquino.

A capital localiza-se em Santo Domingo. O país tem um território de 48 442 km2, dispondo de uma população de cerca de 8 milhões de habitantes.

O território é atravessado por quatro cadeias paralelas de montanhas, a principal das quais é a cordilheira central, na qual se situam os picos mais altos das Caraíbas, como o Pico Duarte e La Pelona (3 087 metros de altitude).

O lago Enriquillo situa-se 40 metros abaixo do nível do mar.

Nos seus férteis vales, cultivam-se vegetais, frutos, cacau, para além da principal cultura do país, a cana-de-açúcar.

02 abril 2004

MONTSERRAT

Montserrat situa-se nas Pequenas Antilhas, 43 km a sudoeste de Antígua, tendo sido descoberta por Cristóvão Colombo durante a sua segunda viagem à América, que a “baptizou” com o nome do famoso mosteiro catalão.

Apresenta um litoral escarpado, com três picos vulcânicos, encontrando-se as encostas cobertas por uma verdejante vegetação.

A ilha constitui um pequeno Estado ainda dependente do Reino Unido.

A capital localiza-se em Plymouth. O território tem 102 km2, dispondo de cerca de 12 000 habitantes.

Foi, em tempos, refúgio de piratas, tendo assistido a combates navais entre franceses, ingleses e espanhóis.

A título de curiosidade, Montserrat ocupa o último lugar (203º) no “ranking da FIFA”, cotando-se como a “pior selecção do mundo” a nível futebolístico, tendo chegado mesmo a disputar um jogo contra a penúltima selecção desse ranking, a do Butão!

01 abril 2004

JAMAICA

A Jamaica é a terceira maior ilha das Caraíbas. Localiza-se cerca de 1000 km a sul da Florida, 160 km a sudoeste do Haiti e 145 km a sul de Cuba.

Cristóvão Colombo aportou em Discovery Bay, na costa norte, a 4 de Maio de 1494, na sua segunda viagem ao Novo Mundo, descrevendo-a como a “mais bela ilha que os olhos jamais viram”. Na época, chamava-se Xaymaca (“Terra da Madeira e da Água”), nome dado pelos índios que a habitavam.

O primeiro povoado espanhol foi fundado na costa norte em 1510, tornando os índios escravos. Os ingleses tomaram a Jamaica à Espanha em 1655, tornando a ilha no maior produtor mundial de açúcar, recorrendo a milhares de escravos da África ocidental, que apenas em 1834 alcançariam a liberdade. A Jamaica viria a ser a primeira colónia britânica das Caraíbas a alcançar a independência, em 1962.

A capital localiza-se em Kingston. O país tem uma superfície de 10 990 km2, dispondo de uma população de cerca de 2 500 000 habitantes.

É uma ilha montanhosa, com o ponto mais alto do país, Blue Mountain Peak, a 2256 m de altitude.

É mundialmente famosa a música popular jamaicana, o “reggae”, de influência indígena e afro-americana.

A nível económico, destaca-se o turismo, a agricultura, a pesca, a produção de café e a extracção de bauxite.

ASSINATURA…

Possivelmente, alguns o saberiam… Eventualmente, outros o “suspeitariam” (?)… A “assinatura” que utilizei nas “entradas” deste “blogue” (L...