30 novembro 2003

TEORIA DA RELATIVIDADE (VIII)

Quando pensamos na natureza, e nas suas proporções macroscópicas, podemos interrogar-nos: “O Universo é infinito?” Não, ele é finito; apresenta uma forma esférica, tem uma idade aproximada de 20 biliões de anos e um raio de 20 biliões de anos-luz.

Ou ainda: “Mas o Universo não é tudo o que existe?” A resposta é também negativa: o Universo é tudo o que pode ser observado!

Efectivamente, é razoável supor que existe uma quantidade imensa de estrelas e galáxias que estão irremediavelmente fora de nosso alcance de observação, sobre os quais nada podemos saber. E, não podendo ser observados, “não fazem parte do Universo”, tal como entendido pela Física.

Se toda a informação do Universo se desloca, no máximo, à velocidade da luz e se o Universo tem 20 biliões de anos, seria esse o tempo máximo de que qualquer informação disporia para ter já chegado até à Terra. E, claro, a distância máxima que se poderia ter percorrido nesse período, seria de 20 biliões de anos-luz (1 ano-luz = 9,5 triliões de quilómetros…); ou seja, tudo o que estiver a mais de 20 biliões de anos-luz da Terra não pode ser ainda observado, porque a luz de uma hipotética estrela (ou de qualquer outro corpo) que aí existisse não teria tido ainda tempo de chegar até nós!

P. S. Aqui termina uma breve digressão, de duas semanas, pela “vida e obra” de Albert Einstein. A partir de amanhã, uma nova figura da história estará connosco…

29 novembro 2003

TEORIA DA RELATIVIDADE (VII)

A concepção básica da Teoria da Relatividade pode ser apresentada da seguinte forma: a velocidade da luz é sempre constante, ou seja, a luz desloca-se sempre em movimento uniforme, a cerca de 300.000km/s; portanto, toda a informação visual que recebemos (corpos ou objectos), não passa do tempo necessário para que a luz percorra uma certa distância num determinado período de tempo, até que ela impressione a nossa retina.

Tal significa, que quando olhamos para um relógio ao meio-dia em ponto, não olhamos exactamente para o relógio, mas para a sua imagem.

Se imaginarmos que seria possível afastar-nos do relógio à velocidade da luz, então, a luz reflectida do relógio (que era a imagem que víamos…) também viajaria connosco a 300.000 km/s; para nós, o tempo pararia, pois seria sempre meio-dia em ponto, cada vez que olhássemos para o relógio!!! – e isto porque, não estaríamos a receber um “novo feixe de luz”, mas apenas e sempre o mesmo “feixe de luz” que víramos inicialmente.

Mais estranho ainda: se fosse possível viajar mais rapidamente que a velocidade da luz, estaríamos a andar à frente do feixe luminoso, emitido no “agora” e ultrapassaríamos as ondas emitidas antes do “agora”; o relógio pareceria estar a andar para trás; estaríamos a regressar no tempo!!!

28 novembro 2003

TEORIA DA RELATIVIDADE (VI)

Em altas velocidades, segundo Einstein, a energia do movimento transforma-se em massa. Esse é o princípio da “fórmula mágica” E=m.c2, em que "E" é a energia, "m" é a massa e "c" é a velocidade da luz no vácuo; da mesma forma que uma pequena quantidade de massa se pode transformar numa grande quantidade de energia (em função da velocidade), descoberta que daria origem à bomba atómica.

Considerando uma quantidade de matéria/massa, multiplicada pela velocidade da luz e, novamente, multiplicada pela velocidade da luz, apuramos assim a quantidade de energia que toda essa matéria pode concentrar.

Esta descoberta veio alterar drasticamente a visão que existia sobre o universo: a energia libertada por um grama de matéria pode ser suficiente para ferver toneladas de água (em função da velocidade).

Só para se ter uma ideia, num corpo com uma massa de 0,5 kg, a energia (medida em Joules) seria igual a 0,5 x 300 000 000 x 300 000 000 (metros) = 45 000 000 000 000 000 Joules!!! – correspondendo à energia necessária para percorrer a pé 25 vezes a distância da Terra à Lua…

27 novembro 2003

TEORIA DA RELATIVIDADE (V)

A relatividade da simultaneidade está relacionada com a relatividade do tempo; diferentes observadores medem intervalos de tempo diferentes para um determinado par de eventos. Geralmente, esses observadores não concordarão quanto à duração desses intervalos de tempo.

Supondo uma pessoa viajando num comboio, determinando o intervalo de tempo entre dois acontecimentos ocorrendo “no mesmo local”, com base num relógio electrónico, sendo os acontecimentos: ligar uma luz de uma lanterna e o tempo que demora a “voltar” o seu reflexo num espelho colocado no tecto do comboio.

Passando agora à perspectiva de um passageiro localizado na plataforma da estação, vendo o comboio em movimento (por conveniência, vamos supor que é um TGV…).

A luz propaga-se à mesma velocidade para ambos os observadores, independentemente de o acontecimento ocorrer num objecto em movimento; contudo, para o observador no exterior, a luz percorre uma distância maior (porque, quando se dá o reflexo da luz no espelho, o comboio se deslocou…).

Contudo, por definição, a velocidade da luz é constante; portanto, se o percurso foi maior, o tempo entre as duas ocorrências também terá de ser maior! Este é o princípio da dilatação do tempo.

Se fosse possível viajar num comboio em deslocação à velocidade da luz (!), o tempo seria sempre igual a zero; ou seja, não existiria! Nessa situação, não existiria envelhecimento (comparativamente a quem está fora do comboio).

O efeito da dilatação do tempo é real! Não tem a ver com questões mecânicas derivadas do movimento; decorre da própria natureza do tempo.

VIVA ESPANHA

Obrigado ao Viva Espanha (apesar de Valência nos ter "tirado" a Taça América...).

26 novembro 2003

TEORIA DA RELATIVIDADE (IV)

Na mecânica clássica, conforme apresentada por Newton, o tempo parece ser sempre o mesmo, qualquer que seja o referencial.

Supondo um autocarro em movimento e que alguém dentro do autocarro (por conveniência, vamos supor que o autocarro tem 100 metros de comprimento…), lança horizontalmente um objecto, no sentido da marcha; o observador dentro do carro vê o objecto deslocar-se na sua velocidade normal; já um observador no exterior, veria o objecto a deslocar-se a uma velocidade superior, porque somada à própria deslocação do autocarro!

Não obstante, o tempo que o objecto demora a chegar ao extremo do autocarro (percorrendo os tais 100 metros…) será obviamente igual para os dois observadores – isto é justificado pelo facto de, para o observador externo, o objecto percorrer uma distância maior, resultando portanto num mesmo intervalo de tempo para ambos!

25 novembro 2003

TEORIA DA RELATIVIDADE (III)

Será que a análise de um mesmo acontecimento é idêntica para dois observadores que tenham diferentes pontos de referência?

Num movimento relativo, geralmente não existe concordância entre dois observadores acerca da simultaneidade de dois eventos a que estejam a assistir; nem sempre um observador concordará com a opinião de outro observador quando assistem a um acontecimento em que haja um movimento relativo entre eles.

No caso da observação de dois raios de luz simultâneos, para uma pessoa imóvel, eles serão percebidos como tendo acontecido no mesmo instante, já que a luz chega ao mesmo tempo aos seus olhos. Se uma outra pessoa estiver em movimento em direcção a um dos locais de onde vem o raio, ela perceberá uma luz antes da outra e imaginará que os acontecimentos não ocorreram em simultâneo.

Assim, constata-se que a simultaneidade entre dois acontecimentos é relativa, dependendo da situação dos observadores.

À medida que nos aproximamos da velocidade da luz, a física clássica não obedece aos princípios por nós percebidos. A velocidade da luz é constante, quer venha de uma estrela, quer de uma lanterna; qualquer que seja o referencial, a luz tem sempre a mesma velocidade (300.000 km/s).

Na relatividade também consideramos a fusão dos dois elementos espaço e tempo, numa única dimensão: o espaço-tempo.

24 novembro 2003

TEORIA DA RELATIVIDADE (II)

Na Antiguidade, pensava-se que a luz era emitida pelos astros no mesmo momento em que podia ser vista da Terra, ou seja, que seria instantânea. Hoje, quando contemplamos as estrelas no céu, sabemos que estamos perante imagens do passado: os raios de luz que “atingem os nossos olhos” saíram daquelas estrelas há muitos anos atrás! (A luz emitida pela Alfa de Centauro, a estrela mais próxima da Terra demora 4 anos e meio para ser vista de nosso planeta…).

Muitos físicos se dedicaram à empolgante tarefa de determinar a velocidade da luz, de que se destacam: Galileu Galilei (1564-1642), Isaac Newton (1642-1727), o cientista dinamarquês Olaüs Roemer (1644-1710), que determinou a velocidade da luz através da observação de Júpiter e de um dos seus satélites, o francês Hipólito Fizeau (1819-1896), que realizou a primeira medida directa da velocidade da luz e o norte-americano Albert Michelson (1852-1931), prémio Nobel de Física em 1907.

As suas investigações sobre a luz foram tão exactas que Einstein se baseou nelas para desenvolver a Teoria da Relatividade.

A velocidade mais próxima da luz calculada até hoje é de: 299.792,458 km/s (por simplificação, a velocidade da luz “c” é considerada como sendo aproximadamente de 300.000 km/s).

TEORIA DA RELATIVIDADE (I)

É possível fazer o tempo parar, de forma a nunca mais envelhecermos?

Existe uma velocidade limite no universo?

Podemos contrair o espaço?

Estas (e outras) perguntas constituem o núcleo da Teoria da Relatividade, formulada por Einstein quando tinha apenas 26 anos.

A Teoria da Relatividade tem a "fama" de ser um assunto muito difícil, mas não é necessariamente a sua complexidade matemática que impede a sua compreensão; conhecendo o teorema de Pitágoras e uma simples equação de segundo grau, poderá ser percebida.

A grande dificuldade deriva do facto de a Relatividade nos obrigar a rever os nossos conceitos apercebidos de espaço e tempo.

O nosso maior problema, é temermos a aprendizagem do que nos parece “estranho”. Pela sua natureza, o ser humano tende a recear o que não entende…

Nos próximos dias, faremos uma fabulosa viagem por alguns dos conceitos da Teoria da Relatividade, procurando apresentar algo daquilo que pensamos não poder entender.

23 novembro 2003

EINSTEIN (VII)

Posteriormente, Einstein passaria a trabalhar no sentido de se conseguir acordos internacionais que afastassem a possibilidade de guerras nucleares, organizando um movimento em prol da não utilização de armas atómicas.

A partir de 1946, Einstein continuou a trabalhar nas suas pesquisas científicas, tendo por objectivo concluir a sua Teoria do Campo Unificado, relacionando as duas grandes forças do universo físico (a gravidade e o electromagnetismo). Não conseguiria contudo cumprir o seu objectivo; apenas após a sua morte foram conseguidos alguns avanços significativos neste campo, havendo contudo ainda muito por fazer.

Em 1949, adoeceu e foi internado num hospital, onde reflectiu sobre a sua vida. Aproveitou também para elaborar o seu testamento, deixando os documentos científicos à Universidade hebraica de Jerusalém, que dirigira, de 1925 a 1928.

Em 1952, após a morte do primeiro chefe de Estado de Israel (Chaim Weizmann), o governo israelita ofereceu a Albert Einstein a honra de ser o seu novo chefe de Estado. Einstein recusou, alegando que não reunia as condições necessárias para o desempenho de cargos que envolvessem relações humanas.

Em 18 de Abril de 1955, após ter sido internado no hospital de Princeton, falecia Albert Einstein, tendo sido, no mesmo dia, cremado em Trenton, Nova Jersey. Einstein seria o primeiro cientista a viver sob a mira da comunicação social, transformando-se numa espécie de “superstar” da ciência.

22 novembro 2003

EINSTEIN (VI)

EinsteinDurante a Segunda Guerra Mundial, perante a possibilidade de que a Alemanha construísse uma bomba atómica, foi persuadido pelos seus colegas a escrever uma carta ao presidente Franklin Roosevelt recomendando ser necessário criar um programa de pesquisas para prevenir a ameaça alemã.

Seis anos depois, em Julho de 1945, era detonada a primeira bomba atómica num teste num deserto dos Estados Unidos (no Novo México); viria a ser utilizada por duas vezes, no Japão, em Horoxima e Nagasáqui (a 6 e 9 de Agosto), matando cerca de 100 000 pessoas em cada cidade e ferindo outras tantas, para além de destruir cerca de 60 % das habitações.

Não obstante, em 1944, Einstein fizera um grande esforço para evitar a guerra, manuscrevendo toda a Teoria da Relatividade, que colocou a leilão, obtendo cerca de seis milhões de dólares; esse manuscrito encontra-se na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos.

Einstein escreveu também nova carta ao presidente Roosevelt, para que não usasse a bomba atómica; contudo, o presidente viria a morrer repentinamente em Abril de 1945; o novo presidente, Harry S. Truman não atenderia o pedido de Einstein.

FUMAÇAS

Obrigado ao Fumaças, com destaques sempre pertinentes.

21 novembro 2003

EINSTEIN (V)

EinsteinEsta nova teoria - confirmada em 1919, por observações durante um eclipse solar - tornou Einstein um cientista reconhecido, o que levou a que fosse indicado como candidato ao Prémio Nobel da Física que, contudo, apenas obteria em 1921, pelo seu trabalho sobre o efeito fotoeléctrico.

Nessa época, o facto de Einstein ser judeu começou a trazer-lhe dificuldades na Alemanha nacionalista, em que avançavam os extremismos, acentuando-se a perseguição aos judeus, no período de 1922 a 1925.

Em 1930, Einstein, numa nova visita aos Estados Unidos - tendo por objectivo proferir palestras - preferiu radicar-se no país, dada a ascensão do nazismo na Alemanha (mantendo inicialmente a ligação às universidades alemãs, até 1933), instalando-se então no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Princeton.

Em 1940, após o regime nazi lhe ter “confiscado” a cidadania, viria a naturalizar-se americano (mantendo, não obstante, a cidadania suíça).

20 novembro 2003

EINSTEIN (IV)

EinsteinA nova Teoria da Relatividade Geral, de 1916, permitia, mais do que qualquer outra teoria até então formulada, explicar o maior número possível de fenómenos do universo. Esta teoria, englobando os fenómenos gravitacionais, concluiu que, no Universo, não existe a noção de “em baixo” ou “em cima”, no sentido de que os objectos caiam por serem puxados para baixo na direcção de um centro de gravitação.

Segundo Einstein, o movimento de um corpo deve-se unicamente à tendência da matéria para seguir o caminho que ofereça menor resistência. Assim sendo, não havia motivo para admitir a existência de uma força gravitacional absoluta, pois os corpos, no espaço, escolheriam os caminhos mais fáceis.

Através de uma série de fórmulas matemáticas, Einstein provou a curvatura do espaço, concluindo que a distância mais curta entre dois pontos não é uma recta, mas sim uma linha curva. Contudo, para curvar o espaço, apenas a massa do Sol tem "poder" para isso, dado que as estrelas estão muito distantes para tal acção. É essa curvatura do espaço nas vizinhanças do Sol que dirige os planetas para esse astro, como se exercesse uma força de atracção.

19 novembro 2003

BLOGUÍTICA

Obrigado ao Bloguítica, o blogger mais activo da blogosfera; como alguém já escreveu: uma referência da blogosfera nacional, sempre atento e actualizado.

EINSTEIN (III)

As novas concepções introduzidas por Einstein vieram alterar a visão do universo que se tinha desde Newton. As próprias ideias de espaço e de tempo deixariam de ser consideradas entidades absolutas.

EinsteinApesar dos seus revolucionários trabalhos, Einstein, então já doutorado, apenas obteria o direito ao cargo de professor universitário (de física) em 1907, na Universidade de Berna; contudo, o facto de a sua dissertação inaugural ser extremamente controversa e ter sido recusada e criticada pelos professores da Universidade, fez com que, efectivamente, apenas começasse a leccionar na Universidade de Zurique, já em 1909.

Em 1911, foi convidado pela Universidade Germânica de Praga (então capital da província austríaca da Boémia), para a cátedra de física teórica, na qualidade de professor catedrático. Em 1912 retornou à Suíça, assumindo também o cargo de professor catedrático. Em 1913, regressou à Alemanha, para trabalhar no Instituto de Física Kaiser Guilherme, em Berlim.

18 novembro 2003

EINSTEIN (II)

Foi então para a Suíça, onde conseguiu concluir o seu curso de física e matemática na Escola Politécnica de Zurique, em 1900; tentara ser professor, mas apenas conseguiu ser funcionário no Escritório de Patentes, na cidade de Berna, de 1901, altura em que se naturalizou suíço, até 1909.

Não obstante, em 1905, na sequência da sua tese de doutoramento (“On a new determination of molecular dimensions”), Einstein publicaria cinco trabalhos científicos no Anuário Alemão de Física, abordando nomeadamente os temas: do efeito fotoeléctrico; do movimento browniano; e da velocidade da luz, formulando a Teoria da Relatividade Restrita.

Surge a sua fórmula “mágica”: E = mc2 (Energia = Massa x Velocidade da luz elevada ao quadrado); toda a energia (E), quer esteja presente num corpo ou seja transportada por radiação, possui inércia, que é medida pelo quociente do valor dessa energia pelo quadrado da velocidade da luz (c2) e, reciprocamente, a toda a massa (m), deve atribuir-se energia própria, igual ao produto da massa pelo quadrado da velocidade da luz, independentemente e além da energia potencial que o corpo possua num campo de forças.

17 novembro 2003

EINSTEIN (I)

E, após duas semanas inteiramente dedicadas ao genial Mestre Leonardo da Vinci, há outras figuras, nomes, pessoas, datas; outros feitos, países, cidades; outros assuntos; história, arte, ciência, cultura, desporto, a tratar.

E, depois do génio do milénio, começamos com um génio do século XX: Albert Einstein; nos próximos dias, faremos uma breve viagem pelo que foi a sua vida e obra (em particular, a famosa “Teoria da Relatividade”).

Albert Einstein, físico, matemático e filósofo, nasceu em Ulm (Württemberg, no sul da Alemanha) em 14 de Março de 1879 e morreu em Princeton, EUA, em 18 de Abril de 1955.

O seu pai, Hermann Einstein, possuía uma oficina electrotécnica e tinha um grande interesse por tudo o que se relacionasse com invenções eléctricas.

Contudo, os negócios não corriam bem, pelo que, após o nascimento de Albert, em Junho de 1880, se mudou para Munique.

Nos primeiros anos de estudo, Albert experimentou tais dificuldades que se receou tivesse problemas mentais. Em 1888, com 9 anos, foi para o Luitpold Gymnasium, onde estudou religião e matemática; na escola secundária, só se interessava pela matemática e pela física; o baixo rendimento nas restantes disciplinas, assim como a sua rebeldia, obrigou-o a abandonar a escola. Não obstante, dos 6 aos 13 anos, Albert aprendera a tocar violino e conseguira mesmo aprender sozinho a tocar piano, ouvindo a sua mãe.

Em 1891, com 12 anos, decidira estudar sozinho matemática e ciências e, nos tempos livres, o seu tio Jakob ensinava-o nas primeiras noções de álgebra e geometria.

LEONARDO - OBRAS:

1472-75 - A Anunciação
1472-75 - O Baptismo de Cristo
1475-76 - Retrato de Dama (Ginevra Benci)
1475-78 - Virgem com o Menino
1478 - A Anunciação
1478-80 - Virgem do Cravo
1480 - São Jerónimo
1481-82 - A Adoração dos Magos
1483-86 - Virgem dos Rochedos
1483-1510 - Estudo de Cavalo
1485 - Estudo de Tecidos
1490 - Virgem Amamentando o Menino
1490 - Vista e Planta de Uma Igreja Centralizada
1490 - Homem Vitruviano
1490 - Retrato de Músico
1490 - Retrato de Dama (Beatriz de Este)
1490 - A Dama do Arminho
1490-95 - Retrato de Dama (A Bela Ferroniere)
1495-97 - A Última Ceia
1498 - Santa Ana, a Virgem, o Menino e São João Menino
1500 - Isabel de Este
1502-03 - Planta de Imola
1502-03 - Fortificações
1503-05 - Retrato de Dama (A Gioconda / Mona Lisa)
1503-06 - Virgem dos Rochedos
1504-06 - A Batalha de Anghiari
1505-07 - Leda e o Cisne
1505-07 - Juncos em Flor
1510 - A Virgem e o Menino com Santa Ana
1511-15 - Baco
1512 - Auto-Retrato
1512 - Feto Humano no Útero Materno
1513-16 - São João Baptista
1515 - Dilúvio

ALMOCREVE DAS PETAS

Obrigado ao Almocreve das Petas, que, em cada dia, publica ("madrugadoramente") o primeiro post da blogosfera.

16 novembro 2003

LEONARDO – CÓDICE HAMMER / LEICESTER E MANUSCRITO ARUNDEL

O Códice Hammer / Leicester trata-se de um volume cujos escritos são dedicados a um tema apaixonante para Leonardo: o da água e das suas forças dinâmicas, os movimentos, as correntes, os remoinhos e os saltos.

Inclui ainda estudos sobre Geologia e Astronomia, assim como teorias sobre a estrutura da terra e as alterações da sua superfície.

Este Códice foi adquirido por Bill Gates (o "patrão" da Microsoft), tendo estado em exposição durante a EXPO98, em Lisboa.

O manuscrito Arundel, conservado no British Museum de Londres, inclui cadernos com diversos conteúdos, compilados por Leonardo na última fase da sua vida, regressando ao tema da água, tendo expressado mesmo a intenção de abordar o tema num volume a que pensava dar o título de "Primeiro Livro da Água"...

15 novembro 2003

TERRAS DO NUNCA

Depois de 2 dias de "black-out nos blogues do Sapo", peço ao "Da Vinci" uma breve pausa para dizer obrigado ao Terras do Nunca!

Leonardo segue "dentro de momentos", já na sua "recta final", quase a abrir a porta a outro génio, "personalidade" do século XX.

14 novembro 2003

LEONARDO – CÓDICES TRIVULZIANO E MADRID

O Códice Trivulziano data dos primeiros anos da fase milanesa, encontrando-se na Biblioteca do Castelo Sforzesco, em Milão. É uma das colecções mais antigas de textos de Leonardo, contendo apontamentos de gramática e lexicografia, com longas listas de palavras derivadas do latim, uma forma de aprendizagem da língua desenvolvida pelo génio para uso próprio.

Os Códices Madrid I e Madrid II apenas foram descobertos nos anos 60 do século XX, estando conservados na Biblioteca Nacional de Madrid. O primeiro é uma colecção de ilustrações e máquinas, especialmente têxteis, e de peças mecânicas. O segundo contém reflexões sobre os problemas da fundição de um cavalo em bronze e os projectos do canal artificial para desviar o curso do rio Arno.

13 novembro 2003

LEONARDO – CÓDICES ATLÂNTICO E WINDSOR

Máquina voadoraO milanês Pompeo Leoni, escultor do Rei de Espanha, Filipe II, e coleccionador de arte, procurou remediar a dispersão ocorrida com a morte de Melzi, tendo conseguido catalogar e numerar um bom conjunto de manuscritos e grande número de folhas soltas que reuniu em grossos volumes.

O primeiro (Códice de Windsor), conservado na Biblioteca do castelo real de Windsor, é uma miscelânea de cerca de 600 desenhos, incluindo nomeadamente os estudos sobre os drapeados da “Última Ceia”, bem como o célebre plano de Imola e quase todos os estudos anatómicos.

O segundo, universalmente conhecido como Códice Atlântico, é a mais vasta colecção de documentos de Leonardo, incluindo desenhos e textos de conteúdo científico e tecnológico. A este Códice pertence também o projecto de um veículo automotor (o “automóvel de Leonardo da Vinci”), assim como os primeiros desenhos de uma máquina voadora, e ainda um esboço de uma bicicleta, surpreendentemente parecida com as actuais.

12 novembro 2003

LEONARDO - OS MANUSCRITOS

Até aos seus últimos dias, Leonardo da Vinci investigou em todos os campos do saber e produziu uma interminável quantidade de apontamentos. Infelizmente, nenhum dos livros começados chegou a ser concluído, permanecendo as suas observações no estado de notas dispersas, breves e fragmentárias.

Com a sua morte, este património passou para o seu discípulo Francesco Melzi, o qual iniciou uma primeira catalogação, embora com uma grande dificuldade de ordenação cronológica.

Não obstante, Melzi conseguiu organizar uma parte do material, tendo preparado a redacção do “Tratado da Pintura”, mais tarde transcrito no Códice de Urbino. Com a morte de Melzi, perderam-se muitos manuscritos, tendo alguns chegado até nós apenas como fragmentos.

Restam hoje cerca de 3 500 páginas, com textos e desenhos, reunidos em pequenos cadernos de apontamentos em que Leonardo anotava rápidas reflexões.

11 novembro 2003

LEONARDO (VII)

A 23 de Abril de 1519, estabeleceu o seu testamento, nomeando herdeiro dos seus desenhos, manuscritos e instrumentos, o seu discípulo Francesco Melzi, assim como o serviçal Salai, os seus “irmãos” florentinos e os pobres e igrejas de Amboise.

A 2 de Maio de 1519, em Cloux, falecia Leonardo, tendo sido sepultado no claustro da igreja de São Florentino o corpo do “noble millanois et premier peintre er ingénieur du Roy, meschanischien d'estat et anchien directeur de peinture du duc de Milan”.

Leonardo declarou-se a si próprio, entre a ironia e o conhecimento das suas próprias limitações e interesses, um “uomo senza lettere” (homem sem estudos); um contra-senso para aquele que é considerado o inventor das ciências modernas fundamentadas no método que se basearia na experiência e nas matemáticas, a par de pintor extraordinário, em última análise, um diletante em matérias culturais e científicas.

10 novembro 2003

LEONARDO (VI)

Homem VitruvianoO velho delicado e extravagante Leonardo encerrou-se na melancolia e na solidão, dedicando-se aos estudos matemáticos (sobre a quadratura do círculo), anatómicos e ópticos. Não obstante, data desta altura a segunda versão de São João Baptista (1513), última obra conservada de Leonardo.

Em 1514, fez ainda uma breve viagem a Parma, Bolonha e Florença, regressando no ano seguinte a Roma; não permanecia contudo inactivo: ocupava-se com o seus “jogos geométricos” e os estudos sobre o movimento da água.

Em 1516, novamente sem patrono, aceitou o convite do novo rei da casa de Valois, Francisco I, passando a ser “primeiro-pintor” da corte, transferindo-se para França, para a sua residência privada no castelo de Cloux, em Amboise, onde realizou um leão mecânico.

09 novembro 2003

LEONARDO (V)

Auto-retratoEm 1509, depois de anunciar que resolvera o problema da “quadratura do ângulo curvilíneo”, concentrou-se em vários estudos de geologia e hidrografia e, entre 1510 e 1513, em temas de anatomia.

Não excluiu contudo a actividade pictórica, como testemunham “A Virgem” e “O Menino com Santa Ana” (de 1510) e “São João Baptista” (1511). Seria também no final desta estadia em Milão que desenha o seu “Auto-Retrato” (1512).

Em 1513, Leonardo partiu para Roma, onde se alojou sob a protecção de Julião de Médicis.

08 novembro 2003

LEONARDO (IV)

Gioconda / Mona LisaEm 1503, regressou a Florença como engenheiro da República (em guerra com a cidade de Pisa). Nesse ano, foi-lhe encomendada “A Batalha de Anghiari” e terá começado a obra mais celebrada da sua carreira, o retrato “A Gioconda / Mona Lisa”.

Realizou o projecto para desviar o curso do Arno e construir um canal que o tornasse navegável desde Florença até ao mar.

Em Junho de 1506, abandonou Florença, com destino a Milão, acompanhado da obra-prima, que considerava inacabada, levando-a mais tarde para Roma e, posteriormente, França.

Leonardo manteve-se em Milão durante 6 anos, até 1513, principalmente ao serviço de Carlos de Amboise, como arquitecto, engenheiro e artista, tendo nomeadamente projectado um Palácio e uma Capela.

07 novembro 2003

LEONARDO (III)

Como arquitecto, realizou uma maqueta para a cúpula da Catedral de Milão, projectou um palácio para Ludovico e ocupou-se da reconstrução da Catedral de Pavia.

Com a queda de Ludovico, em 1499, Leonardo abandonou Milão, em direcção a Vaprio e daí para Mântua e Veneza.

Em Março de 1500, já se encontrava em Veneza, onde conheceu Giovanni Bellini e Giorgio da Castelfranco.

Mas, logo na Primavera de 1500, voltou a Florença, onde se envolveu no concurso para a execução da colossal estátua de David (ganho por Miguel Ângelo).

Em 1502, Leonardo apareceu como arquitecto e engenheiro-geral de César Bórgia (filho do Papa Alexandre VI), tendo passado por Piombino, Arezzo, Urbino, Cesena e Imola.

06 novembro 2003

SOPHIA DE MELLO BREYNER

Parabéns pelo 84º aniversário!

... Uma semana depois da entrega pela Rainha Sofia de Espanha do mais importante prémio da literatura ibero-americana, o Prémio de Poesia Rainha Sofia, com o qual a poetisa portuguesa foi distinguida, de entre um lote de 76 candidatos, propostos por instituições académicas, universitárias e culturais de países latino-americanos e dos EUA, por selecção do Património Nacional de Espanha e da Universidade de Salamanca.

Sophia de Mello Breyner publicou a sua primeira obra (“Poesia”) em 1944, sendo de referir ainda: "Dia do Mar" (1947), "Coral" (1950), “Tempo Dividido” (1954), “Mar Novo” (1958), "O Cristo Cigano" (1961), "Livro Sexto" (1962), "Geografia" (1967), “Antologia” (1968), “Grades” (1970), “11 Poemas” (1971), “Dual” (1972), “O Nome das Coisas” (1977), “Poemas Escolhidos” (1981), “Navegações” (1983), “Antologia” (1985), "Ilhas" (1989), “Obra Poética” (1990/1991), “Musa” (1994), “Signo” (1994) e "O Búzio de Cós e Outros Poemas" (1998), para além de livros em prosa (nomeadamente "Os Contos Exemplares" (1962) e “Histórias da Terra e do Mar” (1984)), assim como livros para crianças, como “O Rapaz de Bronze” (1956), "A Menina do Mar" (1958), "A Fada Oriana" (1958), “Noite de Natal” (1960), “O Cavaleiro da Dinamarca” (1964), “A Floresta” (1968), “O Tesouro” (1978) e “A Árvore” (1985).

LEONARDO (II)

Leonardo iniciou depois a produção de imagens para devoção privada, como A Virgem com o Menino (1475) e A Virgem do Cravo (1478).

Em 1480, trabalhava já para Lourenço de Médicis, no Jardim da Praça de São Marcos; em 1482, transferiu-se para Milão, onde viveria até 1499. Lourenço enviara-o à corte de Ludovico Sforza, apresentando-se Leonardo ao duque como autor de instrumentos de guerra e inventor secreto, mas também como artista, projectista de edifícios, escultor em pedra e bronze, pintor e até engenheiro hidráulico.

Entre 1482 e 1499, começou a receber várias encomendas de retratos; em 1483, começou os estudos para o cavalo do monumento a Sforza, mantendo-se não obstante concentrado na prática da pintura, como demonstra a mais precoce das suas obras-primas, a “Virgem dos Rochedos”. Com “A Última Ceia” conseguiu uma das obras mais elogiadas e mitificadas de toda a história da pintura.

Última Ceia

A propósito da "Última Ceia", João Bénard da Costa publicou o seguinte texto no jornal "Público" de 14 de Novembro:

A Última Ceia
Por JOÃO BÉNARD DA COSTA
Sexta-feira, 14 de Novembro de 2003

"1 - No mundo latino, não há sacra imagem mais reproduzida e mais divulgada. Nessa divisão, normalmente situada ao fundo de longos e desabridos corredores, a que no século XIX e em grande parte do século XX, se chamou casa de jantar, a burguesia e a pequena-burguesia, mesmo quando maçónicas ou jacobinas, entronizaram, quase sempre, gravuras, litografias ou, nas casas de pior gosto, horrendos baixos-relevos esmaltados ou pintados, reproduzindo o cenáculo davinciano pendurado sobre o aparador com torcidinhos. Nenhuma dessas reproduções reproduzia a pintura de Leonardo, como ela estava ou como ela era à época da sua mais intensa popularidade. Bem cedo depois de ter sido pintada (1495-1497), "L'Ultima Cena" já começara a obscurecer-se. Em 1568, Vasari escreveu que "a obra de Leonardo está em tão más condições que pouco mais se vê do que uma mancha fosca". Mas a fama de Leonardo era tamanha, tamanha era a reputação da "tavola" pintada no refeitório do Convento de Santa Maria delle Grazie, que, na primeira metade do século XVI, já se multiplicavam as cópias a óleo de discípulos do Mestre, como Solari ou Luini. A mais famosa dessas cópias data de 1625, quando o cardeal Federico Borromeo a encomendou a um tal Vespino, para que a "reliquiae fugiente" da "Ceia" ficasse para a posteridade.

Assim, o que essa posteridade, entre a qual me incluo, conservou e emoldurou, não foi a pálida imagem de Leonardo, mas a pálida imagem de maquilhadíssimas cópias. Quem foi ou quem ia a Santa Maria delle Grazie, mesmo após os sucessivos restauros de 1851, 1870, 1901 ou 1924, recuava cheio de espanto. Não via um quadro, como, baseado nas reproduções, tinha suposto ir ver; não via um fresco porque Leonardo nunca pintou um fresco nem usou a técnica dele; via, na parede oposta à Crucificação de Montorfano, uma pintura descomunalmente horizontal (já houve quem lhe chamasse a única pintura do mundo em cinemascope) onde a custo se descortinavam os rostos de Cristo e dos doze Apóstolos e onde o celebérrimo "sfumato" vinciano se esfumava na sombra e no silêncio.

Como as estátuas gregas do século V, que hoje só conhecemos pelas cópias romanas, a memória da "Ceia" vinciana foi transmitida, ao longo de quatro séculos, por imagens claras de uma imagem obscura. É verdade que, de Milão, em 1788, Goethe escreveu ao Duque Carlos Augusto, de Weimar, que ela era "uma obra-chave no campo da concepção artística. Absolutamente única e nada lhe pode ser comparado". Falaria do que viu? Ou foi Goethe o primeiro a perceber que a prodigiosa singularidade da "Ceia" reside no próprio sentido de efémero que lhe presidiu? É que Leonardo só não pintou "a fresco" porque não quis. Se pintasse "a fresco", não tinha podido corrigir, nem mudar. "Leonardo é o primeiro artista insatisfeito, atormentado não tanto por uma obcecante necessidade de perfeição mas pelo objectivo fundamental que perseguiu. Não concebeu a "história" como uma acção definida, mas como uma situação psicológica complexa, tecida de actos e reacções mutuamente intrincados, inseparáveis uns dos outros e só passível de valorização face ao resultado global" (...) "O desenho, a pintura são uma busca contínua; não se pode saber de antemão onde conduzirá e que facto revelará de que se não pode prescindir." Estou a citar Argan, o historiador. Podia citar Leonardo, que o disse em menos palavras, aqui deixadas em italiano: "Il bono pittore ha da dipingere due cose principali, cioè l'homo e il concetto della mente sua; il primo è facile, il secondo difficile, perché s'ha a figurare con gesti i movimenti delle membra."

Eventualmente, Leonardo terá querido que da sua obra (a "Ceia" é a obra de Leonardo mais dedicada ao instante) ficasse a sombra. Sombra do imenso movimento dos 12 homens que se sentaram com Cristo à mesa naquela tarde; sombra da imensa imobilidade de Cristo naquela tarde e naquele momento (não consigo dizer-vos se a pintura é terrivelmente dinâmica ou terrivelmente estática); sombra que se projectou, como se luz fosse de um projector cinematográfico indesligado e indesligável, na pálida luz das cópias, as únicas que fixaram o que em Leonardo, para sempre, ficou em aberto, movente e comovente.

2 - Vai árido este texto? É bem possível, mas não sei de outra via. Como sempre me acontece, amenizo subjectivando.

É que até eu, e até ao dia 11 de Novembro de 2003, nunca vira "La Cena" senão em reproduções. Em 1967, da primeira vez que fui a Milão, o Cenáculo fechou-se-me tanto por má fortuna como por amor ardente. Quando voltei, nos anos 80, já se encerrara para o último restauro, esse que durou de 1977 a 1999. Quando, agora, surgiu inopinadamente e sem qualquer premeditação a possibilidade de uma estada de 24 horas em Milão, soube que era chegado o momento. O dia 10 (uma segunda-feira) era o dia de encerramento? Era. Para o dia 11 já não aceitavam mais reservas (o Cenáculo, como tantos outros lugares altíssimos de Itália só se visita hoje por "prenotazione", bela palavra para tão feia acção)? Não aceitavam. Eu tinha que estar no Aeroporto de Malpensa às 11 horas da manhã? Tinha. Mas os modernos dragões (burocracias, turistas japoneses, horários) são como os antigos. Saltamos-lhes às goelas. Comigo próprio assinei o pacto de me levantar às 6 e meia da manhã (não conheço outros Leonardos nem outras Leonardas que a tanto me obrigassem). Às 8 em ponto estava junto à porta amarela do Cenáculo e às 8h15, após mendigar junto de três guias, surgiu aquela (louvada seja!) que tinha um bilhete a mais. Às 8 e 30, a porta de vidro automática do refeitório das Graças abriu-se para mim e para mais 49 terrestres pedestres. Fora avisado da regra, como nos mitos e lendas antigos. Só dispunha de 15 minutos, 15 exactos minutos. Ao fim deles, seria implacavelmente varrido. Nem olhei para a "Crucificação" da parede sul. Os 35 metros de largura da parede norte esperavam por mim. 68 anos esperaram. A primeira coisa que pensei, como Henrique III diante do cadáver do Duque de Guise, foi: "Mon Dieu! Comme il est grand!" Depois, eu, que demoro tanto tempo a ver, puxei dos olhos com quanta força tenho. Vi o triângulo equilátero da figura de Cristo, a forma indestrutível. Vi o perfil efeminadíssimo de Filipe, o mais alto de todos. Vi Tiago Menor, o único da família de Jesus, seguindo alguns até seu irmão, visivelmente inspirado no mesmo modelo que serviu para a imagem de Cristo, dos doze o mais bonito, com os cabelos louros tão bem penteados. Vi o suavíssimo João, o único tão imóvel quanto Cristo, o único que não gesticula. Mas vi sobretudo o Senhor, sentado de costas para a maior das três janelas, com o espaço todo à direita e à esquerda, sem ser tocado por ninguém e sem tocar em ninguém, abertamente sozinho.

3 - Em tempos, impressionou-me muito um agudíssimo paralelo feito por George Steiner ("Two Meals") entre "O Banquete" de Platão e a "Última Ceia". Steiner - como Leonardo - parou o tempo na passagem do Evangelho de São João em que Cristo diz: "Amen dico vobis quia unus vestrum me traditurus est" ("Em verdade, em verdade vos digo que um de vós me há-de trair"). S. João, sempre segundo o mesmo Evangelho, estava reclinado no peito de Jesus, como discípulo amado que era. Pedro faz-lhe sinal para que ele interrogasse Jesus e soubesse quem era o traidor. João assim fez e Jesus respondeu: "É aquele a quem Eu der o bocado de pão ensopado." E, molhado o bocado de pão, tomou-o e deu-o a Judas.

Steiner escreveu: "Num plano naturalista, o que aconteceu só é inteligível se o que Jesus disse ao discípulo que amava não foi ouvido por mais ninguém. A não ser assim, porque é que Judas aceitaria o 'pão que eu vou molhar', o sinal que trairia o seu anátema?"

Mas Leonardo não viu a cena como quase todos os pintores e comentadores a viram, nem sentou Pedro longe de João, o que "naturalisticamente" explicaria o pedido, que Pedro, de onde estava, não teria podido fazer. Pela primeira vez, na história de uma representação da Última Ceia, João não está reclinado no colo do Senhor, mas muito afastado dele, inclina-se para a direita, ouvindo S. Pedro, que se levantou do seu lugar. Este, João e Judas formam um outro triângulo, em que Pedro passa para trás de Judas, para falar ao ouvido de João. Judas, virado para os dois (único que volta as costas ao espectador), não pode deixar de ouvir o segredo. A não ser que o momento representado seja posterior a ele, hipótese que ao 7º minuto me comecei a pôr. Ou seja, João fez a pergunta a Cristo. Este já respondeu e é essa resposta que João, deixando o colo do Senhor para se aproximar de Pedro, transmite ao futuro papa, sem curar de Judas, que, incauto, já foi identificado e já não pode fugir. Mas nem todos o sabem àquela mesa e por isso tanto se dividem os grupos: os apóstolos, à esquerda do Senhor (mais longe de João, Judas e Pedro) em imensa agitação, protestam inocência; os da direita estão gelados pela descoberta. Por isso, a mão direita do Senhor retira-se da de Judas a quem deu o pão e a mão esquerda fica aberta sobre a mesa, no último sinal de oblação.

Por isso, também, o olhar de Cristo é o único olhar que não vemos e não nos olha. Só a boca e os braços abertos exprimem a solidão suprema, nimbada ao fundo pela luz crepuscular, a mesma luz da transcendência, essa que, no mesmo ano, Bramante filtrou na cúpula de Santa Maria delle Grazie. Nunca tanta sombra deu tanta luz. Um segundo de tempo num infinito de espaço.

Foi, também, o que me foi dado. E mais não peço e mais não quero."

O texto pode ser também visto aqui (enquanto o link estiver activo...).

05 novembro 2003

LEONARDO (I)

LEONARDO - Pintor, Escultor, Arquitecto, Teórico da arte, Naturalista e Inventor - nasceu na aldeia florentina de Vinci (na Toscana italiana), em 15 de Abril de 1452.

Nos seus primeiros anos de vida, aprendeu as primeiras letras e regras da matemática e, possivelmente, estudou latim, tendo-se iniciado também na arte da pintura.

Em 1469, transferiu-se para Florença com a família, passando a aprendiz na oficina do escultor e pintor Andrea del Verrocchio, onde se manteve até 1478 (então já como oficial).

Anunciação

Entretanto, em 1472, Leonardo já se encontrava inscrito na Compagnia di San Luca dos pintores florentinos, tendo iniciado nessa data A Anunciação, uma tela para o Convento de São Bartolomeo de Monteoliveto.

04 novembro 2003

DA VINCI

Da VinciDA VINCI.

LEONARDO.

Personalidade do Milénio. Pintor, Escultor, Arquitecto, Teórico da arte, Naturalista e Inventor.

Este blogue nasce hoje, "inspirado" pela maior figura do Milénio passado.

Nele se vai tratar de variados temas.

De grandes figuras.
De grandes nomes.
De grandes pessoas.
De grandes feitos.
De grandes datas.
De grandes países.
De grandes cidades.
De história.
De artes.
De ciência.
De cultura.
De desporto.

Um ambicioso plano que, tenho plena consciência, não conseguirei nunca realizar.

Procurarei, dia a dia, reduzir a infinita distância para essa meta.

Venha daí, comigo, nesta maravilhosa viagem!...

ASSINATURA…

Possivelmente, alguns o saberiam… Eventualmente, outros o “suspeitariam” (?)… A “assinatura” que utilizei nas “entradas” deste “blogue” (L...